Por Dr. Fabio Ravaglia*
Verão, férias, Carnaval… e o sonho de viajar cresce. Sair da rotina é muito bom para “recarregar as pilhas” e renovar a energia no novo ano. Mas, ir para um lugar distante ou pegar um grande congestionamento na estrada pode deixar qualquer um cansado. O cansaço até parece pequeno quando é acompanhado também de dores no corpo. O tempo prolongado em uma mesma posição é o responsável pelas dores e outros problemas de saúde que sobram depois de uma longa viagem.
Mas nada de desanimar! Para que os viajantes aproveitem bem o passeio, gostaria de passar algumas informações para viajar sem dores e para as pessoas não terem problemas de saúde por conta de ficarem muito tempo na posição sentada em ônibus, carro, avião ou trem. Começo pelos mais comuns até chegar aos mais graves problemas de saúde causados pelas viagens.
Dores na coluna cervical e na coluna lombar acontecem frequentemente porque nem sempre a cadeira é adequada ao tamanho da pessoa. A poltrona precisaria ser proporcional ao tamanho da pessoa. Como nem sempre os bancos são ajustáveis, pessoas muito altas ou baixas e muito gordas ou magras, podem usar travesseiros na nuca ou na lombar para terem mais conforto. A dor na coluna pode dar formigamento ou adormecimento nas nádegas. Neste caso, convém contrair o umbigo para melhorar a posição da coluna e contrair as nádegas para melhorar a circulação. A dor na nuca ocorre pelo cansaço, por uma posição inadequada ao dormir, ver televisão, ler ou usar o laptop durante a viagem. As dicas para manter a coluna cervical e lombar em ordem são: procurar sentar com boa postura o tempo todo, mexer o tronco para frente e para trás e mexer o pescoço de um lado para o outro e para frente e para trás. Para não ter dores nos braços, os movimentos necessários são: esticar os braços para frente e dobrar os cotovelos. Alongar um braço e depois o outro, passando-os por cima da cabeça. Lembre-se de não ficar muito tempo na mesma posição.
Para evitar dores nas pernas e inchaço nos pés, recomendo alguns exercícios a serem feitos sentado mesmo. Levante o joelho em direção ao peito, diminuindo o ângulo da parte de trás do joelho e retirando a coxa do acento; repita o processo com a outra perna. Estique a perna, deixando a parte de trás do joelho sem dobrar; repita com a outra perna. Com o calcanhar no chão e os dedos para cima, role o pé de trás para a frente até que o calcanhar e os dedos fiquem apoiados no chão para movimentar a planta do pé; repita com o outro pé. Estique o pé e dedos para baixo e para trás, aumentando o ângulo entre a parte superior do pé e frente da perna; repita com o outro pé. Movimente os tornozelos, levando os pés de um lado para o outro e desenhando círculos no ar.
Em viagem de avião ou de carro é comum sentir dor nos ouvidos quando o avião decola ou pousa e na subida ou descida de serra, por causa da diferença da pressão interna do corpo e da externa ou mesmo por conta de despressurização da aeronave. Para ajudar a evitar esta dor, é importante movimentar a língua e o maxilar; mascar chiclete ou chupar balas. É comum os bebês chorarem nestas horas porque têm maior sensibilidade nos ouvidos; para ajudar, amamente justamente nestes momentos ou dê a chupeta.
Motoristas precisam de cuidados especiais. Dormir bem antes de dirigir e não ingerir drogas ou álcool são atitudes fundamentais para garantir atenção e concentração ao volante. Para evitar que o cansaço interfira no desempenho, convém fazer uma pausa de pelo menos dez minutos a cada duas horas. Devido à troca de marchas, são comuns as dores nas pernas, nos joelhos e até a queimação sacral, por isso, não é recomendado ficar acionando os pedais por muitas horas seguidas.
Problemas mais graves
A trombose é causada pela má circulação, que pode ocorrer quando a pessoa fica muito tempo parada, o sangue coagula e provoca caroços que impedem a passagem de mais sangue. É um problema circulatório grave que pode acometer quem tem problemas circulatórios ou não. O sintoma é quase imperceptível e muito rápido. Sente-se uma pressão no tórax e as pernas ficam inchadas. O ideal seria caminhar sempre que possível e fazer movimentos com os pés e as pernas.
Elenco também outros problemas menos frequentes que podem acontecer. Alergia e infecção por causa da contaminação nos transportes, seja pela falta de higiene ou pela convivência próxima com mais pessoas. Nesse caso não há muito como se prevenir, mas fique atento para não comer sem lavar as mãos e evite colocá-las nos olhos ou na boca, por exemplo. Estresse da viagem ou por causa da diferença de fusos horários: procure descansar um pouco logo que chegar. Durma bem nas duas noites que antecedem viagens.
Cuidados gerais
Aponto alguns cuidados que todos podem ter. Ao usar transporte público, tome cuidado com a higiene pessoal. O ideal seria levar capas para colocar nas poltronas, quando as empresas não dispõem deste serviço. É recomendado uma alimentação leve antes e durante a viagem. Atenção à hidratação: não é só o calor que desidrata, o ar-condicionado é mais seco e também pode desidratar. A umidade relativa do ar em uma aeronave fica entre 15% e 30%, um grau bastante baixo para a maioria das pessoas, que normalmente se sentem mais à vontade quando a umidade relativa do ar é de 45%. Quem vai por via terrestre, precisa lembrar de se proteger contra o sol. Muita gente sente enjoo durante as viagens, neste caso, convém consultar um médico para saber qual medicamento tomar antes de embarcar; há também pulseiras de acupuntura que trazem bons resultados. Algumas vezes, o enjoo é provocado por perfumes ou cheiros fortes, portanto, se possível, afaste-se dos cheiros ou use lenços umedecidos no nariz. Convém evitar a ingestão excessiva de líquidos, comida gordurosa, condimentos e refrigerantes.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) preparou uma lista a fim de orientar grávidas, recém-nascidos, doentes do coração, pessoas com doenças respiratórias, com transtorno psiquiátrico e em recuperação de cirurgias, com as recomendações médicas para passageiros de avião. As informações são baseadas na cartilha "Doutor, posso voar?", preparada pela Liga de Medicina Aeroespacial da Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo, que traz diretrizes médicas para pessoas nestas condições. No documento dirigido a médicos, passageiros e tripulantes da aviação, a entidade faz as advertências que podem evitar o agravamento de quadros saúde pré-existentes. Portanto, nestes casos, as pessoas precisam conversar com seus médicos antes de viajar.
Aproveite os intervalos das viagens. Em escalas de aviões, paradas de ônibus ou paradas de carro na estrada, caminhe sempre, espreguice e alongue a musculatura. A importância de se movimentar é tão grande que, nos Estados Unidos, muitos aeroportos têm academias de ginástica para os passageiros se exercitarem antes e após pegarem seus voos. Na falta de academias, a caminhada é um bom exercício.
(*) Dr. Fabio Ravaglia é Médico ortopedista e presidente, desde 2005, do Instituto Ortopedia & Saúde (IOS) – organização não governamental que tem a missão de difundir informações sobre saúde e prevenção a doenças, principalmente aquelas associadas à terceira idade, e que organiza o Projeto Cidadania – Caminhadas com Segurança, evento mensal que incentiva a atividade física e conta com uma feira de saúde aberta à população para a realização de exames gratuitos. O dr. Fabio Ravaglia é membro do corpo clínico externo dos hospitais Albert Einstein, Oswaldo Cruz, Sírio Libanês e Santa Catarina; membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo (cadeira 118, patrono Ernesto de Souza Campos) membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – Sbot; e diretor-presidente da Arthros Clínica Ortopédica.
Graduado pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp) com residência médica no Hospital do Servidor Público Estadual, especialização em coluna vertebral pelo Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho (Santa Casa de Misericórdia de São Paulo) e mestre em cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Foi o primeiro brasileiro aceito pelo programa do Royal College of Surgeons of England. Atuou como cirurgião ortopédico em hospitais ligados à Universidade de Bristol e fez especialização em cirurgia na Alemanha.
Tenho 64 anos e vou fazer uma viagem longa,de carro,serão 6 dias.Que fazer para tornar isso uma coisa agradável,sem dores, nem medos?
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