*Sandra Rosenfeld
A gente se espanta com o que causa espanto. E o que causa espanto? O inesperado, o que nos pega de surpresa, o absurdo por si só.
A morte não esperada, a violência, as falcatruas, a dor alheia, a pobreza, o pouco caso, os acidentes que poderiam se evitados...
Mas a verdade é que isso são coisas que não nos surpreendem mais.
A morte ao lado não nos paralisa, não nos consterna, não provoca a imediata reflexão. Como foi o caso dos mortos estendidos na areia, resultado da ciclovia que desmoronou aqui, no Rio de Janeiro, e os jogadores de vôlei continuaram a partida, literalmente, ao lado dos corpos como se nada tivesse acontecido.
Mas podemos culpá-los? Não. Apenas registrar a que ponto chegamos.
Algo semelhante em termo de espanto aconteceu com a moça que, ao ser ferida pelo guardador de carros, em Belo Horizonte, declarou que – além da indignação – não tinha sentimento algum, o que é justificado pela sua fala anterior, de que o mundo está tão virado e a impunidade é tão grande, que isso virou normal.
E, noutro dia, uma amiga estava jantando na Lapa quando iniciou um tiroteio, todos do restaurante se jogaram ao chão, mesas caíram e um homem morreu. O que aconteceu em seguida? Levantaram, arrumaram as mesas e continuaram jantando.
Ok. Na verdade, se fôssemos parar a cada assombro, não nos moveríamos mais e morreríamos interiormente de forma antecipada, um pouco a cada momento.
Mas não será esse o motivo de tanta displicência com a dor alheia ou até com a própria dor? Será que já estamos meio mortos e não sabemos? Será que essa falta absurda de reação humanitária não é uma forma de violência também?
Precisamos nos proteger. É assim que sobrevivemos. E manter os sentimentos a distância, quando os acontecimentos dessa natureza acontecem de modo corriqueiro, é uma forma de proteção.
Mas a que preço?
Pessoalmente, acho que devemos mostrar nossa indignação em todo momento que for possível. Não podemos permitir que o anormal se torne normal como vem ocorrendo.
Parar sim o jogo, o jantar, o que for... e mostrar-se e sentir-se de fato consternado, solidário e indignado. Mostrar claramente que não queremos mais tão pouco caso nem tanta impunidade.
E, principalmente, não deixar que isso nos afete de maneira tão negativa gelando nossa alma, nossos sentimentos, nosso espírito fraterno, nossa compaixão por nós mesmos e pelo próximo.
A vida não é nada sem o próximo, sem o afeto, sem a solidariedade.
Não podemos esquecer que nesse Universo está tudo interligado e que a dor do outro é sempre um pouco nossa também.
Parafraseando Gandhi: "A paz e a mudança que queremos no mundo começam nas nossas atitudes individuais".
*Sandra Rosenfeld
Especialista em Qualidade de Vida como Escritora, Palestrante, Instrutora de Meditação e Executive & Personal Coach.
Autora dos livros “Durma Bem e Acorde para a Vida” e "O que é Meditação", ed. Nova Era/Record.
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