Beber muito em um curto intervalo de tempo expõe os jovens a um risco muito maior de apagões, violência, acidentes e sexo sem proteção. Esse é o principal resultado de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou mais de 1.200 jovens em 31 casas noturnas de São Paulo.
O trabalho foi publicado na edição de agosto da revista PLoS ONE e divulgado na última semana no estadao, em reportagem de Paula Felix. Jovens de 18 a 24 anos foram avaliados, com entrevista e bafômetro, antes da balada, ao sair da festa e no dia seguinte.
Tomar cinco ou mais doses em uma única ocasião (o que os especialistas chamam de binge drinking) aumenta a chance de intoxicação alcoólica e, portanto, compromete a capacidade do jovem de avaliar o risco nas situações em que se envolve.
Quase 30% dos homens e 22% das mulheres apresentaram o padrão de “binge”, que é favorecido pelas festas “open bar”. Nas festas universitárias, muitas delas hoje apoiadas pela indústria da bebida, esse é o modelo preferido pelos jovens, o que dificulta possíveis mecanismos de controle individual do consumo ou da implementação de estratégias de redução de danos.
Os pesquisadores perceberam comportamentos de risco distintos entre os sexos: 28% dos homens e 20% das mulheres dirigiram depois de beber, 16% deles e 9% delas usaram drogas ilícitas e 11% dos homens e 7% das mulheres fizeram sexo sem proteção. O “blackout” (não lembrar o que fez depois de beber muito) aconteceu com quase 20% dos jovens e revela uma situação com alto potencial de risco para diversos padrões de comportamento.
Mais novos X álcool na TV. Mas não é só o jovem de 18 a 24 anos que bebe muito! Bom lembrar que o início de contato com bebida tem acontecido de forma precoce no Brasil. Quanto mais cedo se dá esse contato, maiores os riscos de os padrões complicados de uso, como o próprio episódio do “binge”, o abuso e a dependência. Nesse sentido, um novo estudo, divulgado na última semana pelo jornal inglês Daily Mail, mostra que propagandas de bebida na TV e em revistas estão influenciando, de maneira importante, o comportamento dos menores.
O trabalho, feito por pesquisadores da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, comparou dados divulgados por uma empresa de análise de mercado, sobre exposição de menores de 18 anos a anúncios de diversas marcas de bebida entre 2011 e 2012, e cruzou esses números com os de uma pesquisa nacional de consumo de álcool por jovens.
Os resultados, publicados no American Journal of Drug and Alcohol Abuse, mostram que crianças e jovens estão cinco vezes mais propensos a comprar bebidas de marcas que anunciam seus produtos na TV e 36% mais influenciados a adquirir produtos que fazem propaganda em revistas de circulação nacional. Segundo os pesquisadores, os dados revelam o quanto a publicidade pode influenciar o comportamento dos mais novos, sobretudo dos menores de 18 anos, em relação ao consumo de álcool.
Se essa influência é iniciada e potencializada de forma mais significativa na adolescência, não é de se estranhar que aos 18 (quando o acesso ao álcool fica ainda mais facilitado), quase um em cada três garotos e uma em cada quatro meninas comece a adotar padrões como o “binge drinking” e passe a se expor de forma importante a diversos tipos de risco.
Repensar a forma como as bebidas (principalmente as de teor alcoólico mais baixo) ocupam espaço hoje nas diversas mídias (de forma importante na internet), educar para o consumo (mesmo levando-se em consideração que o álcool é um potente alterador da nossa percepção de risco), fiscalizar a venda e o consumo de bebidas pelos menores de maneira mais eficaz e pensar em estratégias de reduzir danos ligados ao consumo de álcool são algumas estratégias defendidas pelos especialistas para lidar com o que consideram hoje um problema de saúde pública.
JAIRO BOUER, médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde.
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