A tese da superioridade masculina esteve em vigor ao longo dos séculos e só passou a enfrentar resistência feroz e crescente a partir do século XX.
Além de fisicamente mais fortes, os homens sempre se acharam mais inteligentes, criativos e portadores de maior bom senso. Isso lhes dava o direito de mando sobre toda a família. Sentiam-se muito confortáveis para rebaixar e humilhar suas esposas. Atribuíam a si uma liberdade social e sexual proibida para elas.
Tais direitos implicavam também em deveres: tinham que ser os protetores e provedores de suas famílias. Deveriam cuidar da castidade de suas filhas e de afastar outros homens de suas esposas. Tinham que protegê-las contra ladrões e aventureiros. Para ganhar o pão se sacrificavam muito e sua honra dependia dos bons resultados, o que sempre onerou emocional e fisicamente os homens – que vivem, em média, 7 anos a menos que as mulheres.
Acontece que o rol das obrigações masculinas só tem crescido ao mesmo tempo que os direitos especiais estão desaparecendo. Vou dar apenas alguns exemplos:
1. Eles sentem que tem que estar sempre disponíveis sexualmente para suas esposas – e também para as outras mulheres (no passado elas não manifestavam claramente seus desejos, de modo que tal pressão não existia);
2. Qualquer fracasso nessa área arruína a autoestima deles, sendo que este evento se torna cada vez mais comum (até porque as mulheres agem de forma mais direta e intimidante);
3. Devem tentar abordar sexualmente todas as mulheres disponíveis (que agora são muitas) sob pena de serem objeto de chacota dos amigos;
4. Não podem se recusar sexualmente em casa e muito menos na rua;
5. Têm que ser competentes para conduzi-las ao orgasmo (preocupação que inexistia em homens e mulheres até há poucas décadas);
6. Têm que estar à altura das expectativas eróticas delas, o que implica inclusive em um maior cuidado com o próprio corpo (elas agora são as que os julgam também como machos).
A lista poderia ser maior. É fato que as mulheres também estão sendo muito mais exigidas do que antes.
Os homens deveriam mesmo é aproveitar o momento, rico em mudanças, para melhorar sua condição e não para se afundar ainda mais em deveres.
O lema da emancipação masculina deveria ser: “Abaixo o machismo!”.
Por Dr. Flávio Gikovate, Médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor. Atualmente apresentando o programa “No Divã do Gikovate”, na rádio CBN, e dedicando a maior parte do tempo à clínica.
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