O tempo está acabando e o coração da cantora Haikaa Yamamoto bate cada vez mais forte. Faltam dez dias para seu prazo se encerrar. É tudo ou nada. A paranaense, radicada nos Estados Unidos e que passava as férias no Japão durante a infância, corre contra o tempo e a única pessoa que pode ajudá-la a cumprir seu desafio é quem está diante do computador. A meta de Haikaa é difícil: arrecadar, nos próximos dez dias, cerca de 160 mil dólares para produzir a websérie Can Music save the World? (A música pode salvar o mundo?), sobre como a música pode ser usada como instrumento para transformar a sociedade. Para arrecadar o dinheiro, a cantora recorreu a um modelo de financiamento cada vez mais comum entre artistas e agentes sociais, o crowdfunding.
VAQUINHA COLETIVA
Surgido e firmado em 2010 nos Estados Unidos, o conceito de crowdfunding é de um financiamento coletivo e democrático: qualquer pessoa que tenha uma ideia de projeto pode cadastrá-la no site de financiamento coletivo (no Brasil, o mais conhecido é o Catarse), estipular uma quantia de dinheiro exigida para viabilizá-la e um prazo para a verba ser arrecada. No ar, qualquer internauta pode investir dinheiro no projeto; dependendo do valor investido, ganha um tipo brinde. Quanto mais o internauta investe, melhor a recompensa. No entanto, a ideia só é financiada se o projeto atinge a quantia de dinheiro necessária, ou seja, enquanto o projeto não arrecada a quantidade de dinheiro estipulada (dentro do prazo inicial), nenhum contribuidor precisa desembolsar grana.
A MÚSICA PODE SALVAR O MUNDO?
Reprodução
Haikaa, responsável pelo projeto de crowdfunding Can Music Save the world?, sobre como a música pode ser usada como instrumento de transformação social
Haikaa, do Can Music save the world, projeto que abre esta reportagem, sabe das possibilidades oferecidas por esse sistema, mas reconhece seus desafios. "O crowdfunding é bem legal porque me oferece uma independência na escolha dos temas do trabalho. Tenho mais de 43 mil fãs nas plataformas digitais e resolvi buscar o apoio deles também para o financiamento do projeto. Lancei a campanha há poucos dias e a arrecadação ainda não decolou. Este projeto é bastante complexo. É um grande desafio, mas minha vontade de dividir histórias de como a música pode mudar o mundo é enorme", conta Haikaa, que arrecada dinheiro no KickStarter (maior plataforma de crowdfunding dos Estados Unidos) e disponibiliza, em português, sua campanha no Youtube.
"QUANDO SINTO QUE JÁ SEI", A CAMINHO DA TELONA
No Brasil, um projeto que tem se destacado no Catarse, mas ainda não arrecadou a verba exigida para ser viabilizado, é o Quando Sinto que já sei, um documentário com a proposta de discutir o atual momento da educação no país. "A ideia de buscar um financiamento coletivo veio por dois motivos principais: realizarmos uma mobilização social para a captar os recursos, mantendo a independência do filme e promovendo uma campanha de marketing gratuita; também não gostaríamos de esperar o período de aprovação e captação de recursos via leis de fomento. Por contarmos com uma equipe pequena e sermos cineastas iniciantes, optamos por crowdfunding", informa Antonio Sagrado Lovato, um dos diretores do documentário. Quem quer contribuir com o projeto pode investir de R$ 20 a 5 mil e, em troca, receber desde o nome no crédito dos filmes até o direito de promover uma seção para exibi-lo, passando por diversas recompensas que podem ser consultadas na página do projeto do Catarse .
O PRIMEIRO JORNALÍSTICO BEM-SUCEDIDO
Quando um projeto consegue arrecadar, dentro do prazo, o valor estipulado inicialmente, os contribuidores desembolsam o dinheiro prometido e os responsáveis têm a missão de concretizar a ideia e disponibilizar os prêmios aos investidores.
A jornalista Natália Garcia já viabilizou dois projetos utilizando esse modelo de financiamento, aliás, ela foi a primeira brasileira a arrecadar dinheiro para um trabalho jornalístico, o Cidade para pessoas. No seu primeiro trabalho, bem-sucedido em março de 2011, a profissional se propôs a visitar 12 cidades europeias planejadas por Jan Gehl -- arquiteto responsável pela malha urbana de municípios considerados modelos de desenvolvimento --, e verificar as soluções encontradas para melhorar a circulação de pessoas. Ela arrecadou mais de R$ 25 mil e, em dois anos, concretizou a ideia e divulgou em diversos meios de comunicação como essas cidades são planejadas. Em seu segundo crowdfunding, viabilizado no ano passado, Natália sugeriu fazer o mesmo trabalho, mas, dessa vez, conhecer as malhas urbanas de cidades norte-americanas, mexicanas e de outros países da América. Necessitava de R$ 15 mil para a ideia vingar; seus 291 apoiadores contribuíram com um total de R$ 17.367. A viagem aconteceu entre setembro e novembro de 2012. "Os próximos passos são viabilizar o fechamento do material já apurado e escrever um livro sobre as duas primeiras fases. Também temos a ideia de realizar uma terceira etapa para o projeto, visitando cidades africanas", revela Natália.
FONTE: Marcel Verrumo para Casa.com
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