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Tudo sobre o nosso controle: O que a Yoga nos ensina

 

“Está tudo sob controle”. Costumamos ouvir esta frase, geralmente dita com um grau de orgulho do pronunciante. Orgulho de estar acima do “caos”, do imprevisto e do descontrole. Essa nossa idéia de controle manifesta-se em diferentes âmbitos das nossas vidas, internamente e externamente.

 

O Yoga ensina que temos um instrumento interno, chamado antark?ra?a. Esse instrumento é dividido em quatro funções: manas, composto por emoções e pensamentos oscilantes; buddhi, pensamento de afirmação, de entendimento; chitta, memória; e, finalmente, ego, ahankara responsável pelo conceito de eu, pela formação da entidade “indivíduo”. 

 

Dentro desse instrumento interno, que é o nosso psiquismo, o ego assume a posição de detentor do controle. O ego pensa estar com o controle das situações e de si mesmo. A sensação de controle que pensamos ter sobre nós mesmos é verdadeira em determinadas situações mas ilusória na maior parte delas. Você tem controle sobre as suas emoções? Certamente não.

 

Se pensarmos bem, veremos que no teatro das nossas vidas, na maior parte do tempo, as nossas emoções tomam a cena e tornam-se os atores principais. E quando isso acontece não agimos como uma pessoa que sente raiva mas como a própria raiva. E na maior parte das vezes, quando isso acontece, depois que as emoções e as têmporas esfriam, nos arrependemos pelo que falamos ou fizemos, pois a pessoa consciente e racional que somos não estava ali. Resumindo, a emoção fez-nos perder o controle.

 

Tampouco temos controle sobre o que pensamos. Pensamentos vêm e vão na nossa mente, num processo de encadeamento, sem que tenhamos muita influência. A nossa mente pula de galho em galho e nos leva a lugares tão distantes do momento e tão distantes de onde queremos estar. Quantas vezes queremos nos concentrar em algo e a nossa mente não deixa!? Quantas vezes somos levados a agir automaticamente devido a esse mecanismo autônomo que é o pensar!?

 

Mesmo sendo uma ilusão essa noção de controle, que começa em relação a nós mesmos, como disse acima, é estendida ao nosso exterior. Pensamos igualmente estar com o controle das situações ao nosso redor. Estou com um bom emprego, tenho um bom carro, uma família saudável. Está tudo bem.

 

Porém não temos a mínima idéia do que pode acontecer poucas horas adiante. Se pararmos para pensar nas inúmeras variáveis que podem acontecer, que estão fora do nosso controle, imediatamente sentimos um frio na barriga. Logo entramos em contato com a realidade de que o controle é uma doce ilusão.

 

Por exemplo, lembre-se de você dirigindo o seu carro. Imagine quantas vezes você se distrai e imerge em pensamentos que te levam para tão distante da rua, dos pedestres e dos outros carros. Por muitas vezes nos pegamos dirigindo automaticamente e distraídos, não é verdade? Imagine agora todas as outras pessoas também imersas em seus afazeres, pensamentos e distrações. Será que alguém tem controle de algo? De tudo isso que acontece ao mesmo tempo?

 

Ao refletirmos sobre essa situação nos damos conta de que estamos, diariamente, nas mãos e nos pés de milhares de outras pessoas que cruzam por nós, algumas mais conscientes e presentes, outras, a maioria, totalmente distraídas e ausentes?

 

Outra ilusão de controle que alimentamos é a sensação de domínio sobre a natureza. Há não muito tempo atrás, os homens eram mais vulneráveis às forças da natureza e a deificavam. Lidávamos com a natureza com o respeito de quem realmente compreende a sua força sobre nós. No entanto, desenvolvemos tecnologias e um saber que nos dá a ilusão de que domesticamos a natureza.

 

Os espaços naturais foram reduzidos. E antes o que nos englobava, florestas e vegetação natural, foi por nós englobado, cercado, demarcado, restringido. Domesticamos e aprendemos a manipular muitos aspectos isolados da natureza, porém quando olhamos para o todo, para o conjunto, logo fica claro que não temos controle algum sobre os fenômenos naturais.

 

A nossa ciência entende e manipula aspectos isolados da natureza. O todo, a compreensão global, o encadeamento de causas e conseqüências mais distantes e a longo prazo nos é, na maior parte dos casos, desconhecida ou no máximo especulada.

 

Compreendendo isso, Goethe disse: a natureza reservou para si tanta liberdade que não estamos em condições de competir com ela em toda a sua extensão ou de acossá-la com o nosso saber e nossa ciência.

 

O fato é que nos vemos hoje às avessas com os danos que causamos ao meio ambiente, por ignorância e interesses econômicos, é claro, mas também por divergências conceituais, por mudanças de teorias científicas sobre a natureza e por falta de capacidade de compreensão global do mundo. Mas não nos falta apenas uma compreensão mais profunda das coisas que nos cercam, falta, principalmente, a compreensão de nós mesmos.

 

Se nos conhecêssemos melhor e pensássemos sobre a nossa idéia de controle a partir da famosa frase: “está tudo sob controle”, veríamos que, na realidade, “está tudo sobre o nosso controle”. Compreender isso não significa se resignar aos acontecimentos da vida, pois certamente há muitas coisas que podemos transformar e manipular.

 

Compreender isso é ter consciência de que existem muitas outras coisas que estão fora do nosso controle e submetidas a uma força maior que rege a natureza, inclusive, a nossa própria compreensão, a nossa inteligência.

 

Essa força maior é a inteligência do Universo que está por trás dos acontecimentos da nossa própria vida (que talvez não seja tão própria assim) e de todas as outras vidas, as quais de fato estão conectadas de maneira a formar um grande organismo uniforme.

 

Compreender isso, leva-nos a nos relacionar com a vida, com as forças da natureza, com as outras pessoas e nós mesmos com mais sabedoria, reverência e aceitação. 

 

 

FONTE: Tales Nunes para YOGA.PRO

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