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Moda Indomada: O uso de pele de animais na moda é ruim para o consumidor, para o meio ambiente e para os animais

Depois da grande polêmica envolvendo o uso de pele verdadeira em acessórios por uma grande marca aqui no Brasil, acho interessante refletir sobre o que isso representa de fato para o meio ambiente. Estudei para ensinar, alfabetizei crianças e adultos e idosos e entendo que quando escrevemos, trocamos, conversamos, são formas indiretas de educar econscientizar.

Não consigo ver outra maneira de mudar o mundo (a começar pelo meu mundo, minha casa)… Então, fui buscar informações sobre o comércio de peles. Da mesma maneira que já refletimos aqui sobre o Jeans. Sem extremismos, informações que trazem conhecimento, possibilidade de reflexão.

Em primeiro lugar entendemos que o Brasil não tem um histórico cultural de uso de peles. Somos um país tropical, clima nada propício para consumo de roupas ou acessórios com peles verdadeiras. Mas, as tendências surgem – primeiro nas passarelas de países que têm essa cultura e, obviamente, como o mundo fashion em solo brasileiro que andar na rota das tendências, acaba se rendendo à costumes que muitas das vezes nem condizem com nossa realidade. E não deu outra! O uso de peles verdadeiras esteve presente em vários desfiles das coleções de inverno/2011. Alguns de nossos estilistas renderam-se às peles de coelho, raposa, chinchila e nas mais diversas colorações.

Quando vi, achei pesado para nosso estilo de vida. Tanto pelo clima como por todo um questionamento sobre processos sustentáveis cada vez mais contundente por parte do consumidor. É o perfil do consumidor tem mudado! Mas, fui otimista e pensei: as peles verdadeiras não devem sair das passarelas para as ruas. Seria uma controvérsia o uso de peles num inverno ameno.

Para minha surpresa e contrariando minha linha de raciocínio coerente, saíram! O que gerou uma moda questionável, indomada, com protestos contundentes nas redes sociais… Vimos a força do consumidor! Só lamento que isso não seja uma constante, que não tenhamos a mesma postura em relação a todas as outras situações da moda que prejudicam ao meio ambiente e todos os envolvidos em sua cadeia de produção – exploração de mão de obra, resíduos químicos e têxteis no meio ambiente, uso descomunal dos recursos naturais sem pensar no dia de amanhã.

Sinto que esta força e este questionamento tenham sido canalizados para um episódio e marca isoladamente. Por que será que nas semanas de moda, a atitude das grifes não causou esta reação? Será que depois de comprovar a sua força, não vale a pena o Consumidor ao menos tentar saber o que existe por trás dos produtos que consome? Não quero usar nosso texto para mencionar nomes ou marcas que usaram peles verdadeiras. Não quero pregar contra eles. O meu objetivo é trazer dados para que o consumidor possa refletir sobre tal prática. Esses dados não vêm descritos nas etiquetas ou nos propagandas e acho justo que os tenhamos.

Apesar da nossa cultura e clima não serem favoráveis, o comércio peleteiro é um negócio muito promissor no Brasil. O País é o segundo maior produtor de peles de chinchila, atrás da Argentina. Os dados registram em torno de 500 fazendas abatendo animais e comercializando uma média de 40 mil peles por ano. A concentração de criadores de chinchila para peles está no sul do país, local de clima propício, já que as chinchilas têm origem região fria e seca.

E, em que isso implica? Vamos pontuar: Em primeiro lugar o sofrimento e o sacrifício de animais para atender a demanda da cadeia fashion. Não existe morte sem sofrimento. É fato. E os cativeiros? Locais sem a menor condição de manter animais. Não podemos achar normal o sofrimento de animais (no caso das peles), de seres humanos (no caso de descumprimento de leis trabalhistas e exploração de trabalho infantil) e do meio ambiente, em nome do consumo, da moda, essa seria a moda indomada, a moda a qualquer preço.

Não devemos esquecer também toda a violência que norteia o processo de retirada da pele destes animais. Como trabalhar estas conseqüências? Lutamos tanto contra a violência. E esta espécie de violência – choques, estrangulamentos, sufocamentos, animais sendo esfolados ainda vivos – como explicar aos nossos filhos? Acredito que o melhor caminho é evitar essa violência e não estimular ou tentar justificar.

É necessário avaliar que a quantidade de energia elétrica utilizada para produzir um casaco de pele verdadeira é aproximadamente 20 vezes maior do que precisariam utilizar para fabricar um casaco de peles sintéticas, conforme alguns estudos já feitos.

Devido à necessidade de tratamento químico para que as peles de animais não apodreçam os casacos de pele não são biodegradáveis e, durante este processo de tratamento, as substâncias químicas utilizadas são descartadas nas tubulações de esgoto, contaminando todos os afluentes de água da região próximos aos curtumes. Segundo pesquisas, são mais de 200 produtos químicos para tratar e fazer qualquer tipo pele verdadeira e, entre esses, há utilização de metal pesado.

Ashley Byrne, da ONG internacional de proteção aos animais Peta, afirma que as peles sintéticas são mais leves, mais duráveis e práticas para cuidar. A cada dia que passa a indústria têxtil oferece alternativas de tecidos com uma aparência muito similar ao das peles animais. É possível aderir A tendência usando materiais sintéticos (principalmente se estes puderem ser reciclados) e assim evitar todo o exposto acima. As vantagens da pele sintética:

    Evitar o sofrimento de animais, a violência do processo e a preservação de seus direitos.
    A pele sintética é tecido, maleável e, portanto mais fácil de costurar.
    Mais fácil de conservar, sem necessidade de armazenamento em lugares especiais e livres da absurda quantidade de produtos químicos tão prejudiciais ao meio ambiente para conservação de peles verdadeiras.
    Consome menor quantidade de energia elétrica em sua produção.

A pele fake pode ser feita de diversos materiais e ainda é necessário avaliar suas conseqüências para o meio ambiente, buscando sempre materiais que possam ser reciclados. Mas, se você não abre mão de uma tendência (e eu não prego isso!!!) que esta tendência seja o mais consciente possível, avaliando os prós e os contras.

Vale registrar que somos um país riquíssimo em recursos naturais e artesanais. Certamente a valorização desses recursos agrega muito mais valor aos acessórios do que peles de coelho, chinchila ou outras. Fica o nosso registro para colaborar com a reflexão do Consumidor.

Percebemos estes dias o poder que este tem para mudança de posturas. Por isso não tenho receio algum de afirmar que a moda e a vida serão mais éticas através de nosso poder de decisão – O que estou comprando? Por que estou comprando? Qual a origem do produto adquirido? Qual o seu destino quando eu não precisar mais dele? – Respostas necessárias, após reflexões baseadas em fatos concretos e que vão trazer coerência em nossas decisões, estimulando uma relação melhor entre homem, meio ambiente e consumo.

Isso é a tal sustentabilidade, que deve sair dos textos, para a prática, provocando mudanças concretas, tirando produtos das prateleiras sim! Por que não? Porém, o objetivo realmente é a conscientização para que eles nem cheguem às prateleiras, pois os danos são irreversíveis.

Fontes de pesquisa: Site da ONG Peta, Wikipédia, Site Cia. De Furão
Fotos: São do fotógrafo e cineasta Gregory Colbert, videoartista canadense muito conhecido por estas fotos que fazem parte de seu projeto Ashes and Snow que tem o objetivo de mostrar a interação harmônica entre humanos e animais. As fotos são incríveis e não são montagens não! Gregory colheu estas imagens no decorrer de 10 anos em lugares diversos – Etiópia, Namíbia e Anatática.


Fonte: Lu Jordão para Coletivo Verde.

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