O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou esse mês um indicador inédito no mundo: o IVH – Índice de Valores Humanos, o qual retrata as vivências dos brasileiros nas áreas de educação, saúde e trabalho, e busca tornar a discussão sobre a importância dos valores para o desenvolvimento humano mais palpável.
O IVH é um projeto piloto realizado no Brasil com o objetivo de se tornar uma metodologia capaz de medir o desenvolvimento de forma mais humana, indicando o grau de respeito a valores nas áreas de saúde, conhecimento e padrão de vida, as mesmas categorias levadas em conta no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e sua elaboração partiu do conceito de que os valores são formados nas experiências das pessoas, captando suas percepções sobre situações vivenciadas no dia a dia. Assim como o IDH, o Índice de Valores Humanos varia de 0 a 1. Contudo, qual a importância dos valores para o desenvolvimento do ser humano?
O conceito de valor é parte do estudo de inúmeras ciências, da sociologia à psicologia, passando pela filosofia, economia e política e tem sido investigado e conceituado por diversas áreas do conhecimento. Existem valores que são universais, como igualdade, liberdade e fraternidade, mas que, infelizmente, nem sempre são praticados e respeitados em sua plenitude.
Além disso, há também os valores que construímos a partir das nossas experiências e vivências, esses são responsáveis, segundo a Psicologia, por algo em torno de 50% do nosso caráter e funcionam como indicadores para nortear nossos caminhos, definem nosso comportamento perante o cotidiano. São os valores como amor, honestidade, respeito, justiça, e outros que dão relevância para nossas atitudes no dia a dia. É a partir deles que damos ou não importância às coisas, distinguimos o bem do mal, definimos os caminhos a seguir em busca do nosso desejado destino e, especialmente, realização da nossa missão de vida.
O PNUD destaca a importância dessa medição classificando o trabalho como "problema da sociedade moderna". Para o órgão, o trabalho é um elemento de inclusão social e de ampliação da cidadania no âmbito das políticas públicas. Por isso, "o conflito aparece quando o sujeito confronta o que deseja ser e fazer com aquilo que ele, por razões muitas vezes ignoradas, efetivamente escolheu realizar como opção profissional".
O maior subíndice registrado é o ligado ao trabalho, calculado em 0,79, o que significa que, no ambiente de trabalho, os brasileiros experimentam mais situações positivas do que negativas. Em seguida está o referente à educação (0,54), e, em último lugar, o da saúde (0,45). O PNUD cita o trabalho como “problema da sociedade moderna”, e destaca que os conflitos surgem para um trabalhador no momento que ele sabe o que deseja e quer fazer na vida profissional e, por diversas razões ignoradas, acaba deixando de lado e seguindo por outros caminhos aos quais não sonhava.
A questão trabalho, ligada principalmente a liberdade e reciprocidade, é uma demonstração absolutamente positiva da busca saudável pela realização profissional. Quando os valores de colaboradores e empresas são contrários, as visões e, consequentemente, missões de ambas as partes tendem a se opor também. Passamos grande parte dos nossos dias em nossos empregos e é de extrema importância poder ser quem somos, e trocarmos ideias e experiências com nossas principais companhias diárias.
A dimensão da educação, a qual destaca, principalmente, os valores da convivência, demonstra que a maioria dos brasileiros (35,7%) considera que o objetivo dos conhecimentos adquiridos nas escolas deve ser, prioritariamente, a formação de bons cidadãos. Entretanto, essa percentagem é seguida de perto por aqueles que pensam que a conquista de um emprego deve ser o objetivo da educação (30,5%). Somente 23,3% da população priorizam a formação de uma boa pessoa por meio da educação, e uma mínima parcela (10,5%) pensa na educação como um caminho para uma boa vida.
Ou seja, os valores medidos pelo PNDU são uma tentativa de materializar a relevância de certos valores na vida dos brasileiros, para auxiliar, baseados nesses parâmetros, na construção e melhorias de uma nova realidade da qual desejamos. Podemos começar agora com cada pequena atitude e contribuir com essa grande obra para que o país possa formar cidadãos com valores dignos de orgulho. Assim, poderemos cada vez mais experimentar e curtir um Brasil que todos têm o prazer de viver.
Por Anderson Cavalcante - administrador de empresas com ênfase em Marketing e MBC pela University of Florida.
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