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O poder da água: Ela destrói o que a APP protege

A chuva limpa, remove, revoluciona. Mais que tudo isso, sem a água retirando as crostas, muita coisa não seria descoberta. A água nunca mente. A água busca incessantemente o caminho da verdade, a trilha do que fora escrito acima de qualquer interesse, qualquer vontade mundana.

E nesses tempos de alagamento por todos os lados, de gotas que não param de cair, é bom que se reflita um pouco sobre um assunto que tanto se fala, mas que pouco se entende: o comentado Código Florestal.

Se pra uns, ele é o que inviabiliza atividades primárias, para outros, a sua prática é vital não só para o Homo sapiens, quanto para outras formas de vida. O Código tem tudo a ver com a chuva, com as enchentes, com as rotas destemidas de todos universos líquidos. Pois é justamente nele que está a determinação sobre a proteção das margens dos cursos d´água, dos topos de morro, das nascentes, de ecossistemas sensíveis – as tais Áreas de Preservação Permanente (APPs) - que podem garantir alguma segurança na qualidade de vida dessa e das futuras que virão.

Também é nesse conjunto de normas que estão definidas a extensão, a largura das matas que devem proteger os rios, quanto maior a distância entre uma margem da outra, maior deve ser a área protegida. Ainda é o Código que prevê a necessidade de se ter uma Reserva Legal, uma outra forma de assegurar que pelo menos um pouquinho do ambiente natural seja preservado para que uma pequena parcela da biodiversidade, do trânsito de genes entre as espécies seja um refúgio de espécies, isso só para citar algumas das funções da reserva.

Mas, refiro-me a esse molhado, embarrado contexto, porque vimos nos últimos dias imagens muito tristes, dramáticas dos desastres em Alagoas e Pernambuco em APPs. E o mais incrível é que esse episódio, da tal onda gigante engolindo municípios nordestinos, já havia sido registrado, conforme lembrou o blog do Metsul. “Não foi a primeira vez que cidades às margens dos rios Mundaú, Canhoto e Paraíba acabaram arrasadas pela força das águas. Em 14 de março de 1969, a pequena cidade alagoana de São José da Lage foi destruída por uma enchente relâmpago do rio Canhoto. O noticiário relatou à época mais de mil mortos”, relata o blog.

E o texto do Metsul adverte: “Se após o episódio de 41 anos atrás tivessem sido adotadas medidas de contenção de cheias ou prevenção como retirada de moradores de áreas ribeirinhas, as conseqüências da chuva teriam sido menores, afinal inundações são recorrentes na zona com precedentes de eventos de natureza catastrófica. O desastre no Nordeste de agora é mais um no Brasil em que há a mão negligente de governantes do presente e do passado”.

Se lá no Nordeste, geralmente os pingos e respingos são festejados, aqui no Rio Grande do Sul, o tempo fechado não é novidade. As nuvens descarregam suas energias em todas as estações. E por aqui, o frio anda arrepiando, deixando muita gente gripada, com todas as “ites” possíveis, sinusite, cistite, amidalite etc.

Tomara que as pessoas que decidem sobre o futuro caminho das águas, seja na pequena localidade, no Estado ou na Capital Federal, percebam o que significa o poder desses universos líquidos – os de dentro da gente e os de fora. Não sei se todos já sentiram na pele, seja com alguma “ite” ou com alguma intempérie, o que representa a magnitude das forças da natureza.

O fato é que, quem tem alguma visão maior do que apenas interesses de um ou outro setor, que zela pelo bem de todos, está indignado, empenhado na mobilização para que direitos adquiridos não escoem pelas mãos dos detentores do poder do momento. Nesse caso, representantes do Ministério Público Federal alertam: se o Congresso aprovar o que pretende o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no Código Florestal, o ambiente poderá sofrer consequências drásticas, expondo ainda mais as populações que vivem em áreas vulneráveis a situações de risco, como os desastres naturais ocorridos neste ano, informou o Estadão desta semana, 29 de junho.

Sinceramente, diante do atual contexto, não sei o que poderá acontecer com o clima depois das eleições, uma vez que esse assunto somente deverá ser votado depois do pleito. Os interesses são muitos, a negociação é inexorável, os valores vigentes ainda são os dos séculos passados e a mobilização movimenta expoentes de lados distintos. Mas como vovó já dizia, o ditado popular para esse caso é bem cruel: Deus perdoa sempre. O homem, às vezes. Já a natureza, não perdoa.

Por Silvia Marcuzzo
 

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