Pandemia agrava déficit na saúde ocular, com 38% menos cirurgias de catarata em 2020 no serviço público na comparação com o ano anterior; idosos e familiares devem estar atentos e buscar ajuda médica
Cerca de 285 milhões de pessoas no mundo sofrem de incapacidade visual, sendo que 39 milhões delas são cegas. Os dados são da OMS (Organização Mundial da Saúde) e a entidade estima que pelo menos 80% desses casos poderiam ser evitados ou curados, desde que todos tivessem acesso a sistemas de saúde ocular. Com cuidados e tratamentos preventivos adequados, cerca de 230 milhões de pessoas poderiam estar enxergando melhor.
A catarata é uma das principais causas de deficiência visual reversível no mundo e acomete principalmente idosos. No Brasil, a pandemia agravou ainda mais o déficit de cirurgias deste tipo. Em 2020, foram realizados cerca de 400 mil procedimentos hospitalares e ambulatoriais via SUS (Sistema Único de Saúde), o que representa um volume 38% menor de cirurgias de catarata na comparação com 2019, quando foram registradas mais de 660 mil operações.
De acordo com a Central da Visão, empresa de impacto social positivo criada para tornar mais acessíveis cirurgias e tratamentos oftalmológicos, a estimativa é que seriam necessários cerca de 1,3 milhão de procedimentos no serviço público para atender à demanda nacional, isso sem considerar os impactos do envelhecimento populacional.
Para Marta Gomes Luconi, diretora geral da Central da Visão, a decisão de procurar atendimento oftalmológico e realizar a cirurgia de catarata é, em geral, tomada de forma compartilhada pela família. “Muitas vezes, o idoso demora a perceber que possui problemas para distinguir cores, que está esbarrando com mais facilidade em alguns móveis ou que está com dificuldade de enxergar à noite. É comum os familiares procurarem a Central da Visão quando o idoso levou um tombo ou sofreu algum acidente em casa. Queremos ajudar na saúde preventiva, orientando os parentes próximos a identificarem os sinais de baixa visão e procurem ajuda médica”, relata.
Cinco sinais de alteração na visão
Dra Bárbara Clemente, cirurgiã oftalmologista especialista em catarata (CRM 169506 SP e RQE 74181), lembra que a partir dos 50 anos é importante consultar-se anualmente para identificar qualquer alteração na visão, mas que há alguns sinais que não podem ser ignorados. Há cinco sinais principais que, na opinião da dra. Bárbara, podem indicar alterações na visão e devem a acelerar a busca por ajuda médica:
1 – Sensação de visão embaçada: é como se uma neblina cobrisse o olhar permanentemente;
2 – Halo em torno de luzes: a pessoa enxerga um arco luminoso circundando lâmpadas, faróis e outras fontes de luz;
3 – Dificuldade de enxergar à noite: ao anoitecer, a pessoa tem mais dificuldade para dirigir e enxergar formas;
4 – Alteração na percepção de cores: a pessoa confunde com frequência branco com amarelo ou cinza, por exemplo;
5 – Alterações no dia a dia: durante os afazeres domésticos, como lavar louça, varrer a casa ou até andar entre os cômodos, a pessoa deixa de ver pequenos pontos de sujeira ou cantos de móveis, nos quais passa a esbarrar com mais facilidade.
“A prevenção é fundamental para detectarmos problemas de visão que estão começando, evitarmos sua piora e iniciarmos rapidamente o tratamento da catarata e de outras doenças oculares. Diante de qualquer sintoma como esses de forma recorrente, não deixe de procurar um oftalmologista. Muitas vezes a solução é mais fácil e acessível do que você pensa”, reforça a médica.
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