Como a meditação pode ajudar a melhorar a sua performance
Lucas Medola
Muita gente imagina que o ritual da meditação requer um ambiente 100% calmo e silencioso, bastante tempo livre e a capacidade de acertar (e manter) a tradicional posição de lótus. Mas isso está longe de ser um fato. Até porque, ambientes calmos e tempo livre são ativos à disposição de pouquíssimas pessoas no mundo. E a posição de lótus... menos ainda!
A verdade é que a meditação pode ser feita em (quase) qualquer lugar. O cotidiano supercorrido é parte da vida de 11 entre 10 profissionais, e o acúmulo de funções – cada vez mais comum no mundo corporativo – pode levar a quadros de ansiedade, estresse e depressão, além de perda do foco e concentração.
Para quem está em busca de qualidade de vida, melhores resultados no dia a dia ou uma promoção na carreira, poucas receitas, como essa acima, podem ser mais prejudiciais.
Portanto, é importante esvaziar a cabeça de dogmas sobre a meditação e investir tempo (o que for possível) para conhecer algumas técnicas ou aprimorá-las. Elas vão lhe ajudar muito a encarar os desafios diários.
Encontrar uma posição confortável
Pode ser na mesa de trabalho, mesmo, contanto que se sinta confortável e consiga um ambiente silencioso nessa situação. Descalce os sapatos e afrouxe a gravata. Tire o som do telefone, do seu computador e também do seu smartphone – que estão entre as principais razões de estresse diário para todos nós que passamos mais tempo no escritório do que em casa, com nossa família.
E não, não é preciso tentar a posição de lótus (pernas cruzadas etc.). Mas claro que, se tivermos intimidade com essa técnica (e elasticidade), melhor. O principal aqui é evitar o que chamamos de “distrações externas” e estar em uma posição que permita que o ar flua livremente pelo seu corpo.
Criar um ambiente silencioso
O objetivo é atingir a quietude da mente. Não será a coisa mais fácil do mundo, porque o mundo faz barulho. Principalmente no ambiente corporativo. Mas aproveite que já “silenciou” os devices à sua volta e tente retirar todo e qualquer pensamento de sua mente. Busque ficar calmo. Feche os olhos. Respire lentamente e compassadamente. Preste atenção na sua respiração, nos movimentos do seu peito, no vaivém do ar atravessando suas narinas.
Quando esse “ruído” se tornar orgânico na mente, ou seja, quando ele se tornar mais alto e perceptível do que todos os outros “sons” que nos rodeiam, é hora de passar para uma segunda etapa: analisar a anatomia do corpo. Começamos com as mãos, passamos aos braços, percebemos o frio ou o calor da sala onde estamos. Preste atenção ao atrito das costas com o encosto da cadeira ou das pernas e pés com o chão.
Segundo recente pesquisa realizada pela Harvard Medical School, quando o oxigênio chega a todas as regiões do cérebro (de maneira adequada), a atividade cognitiva fica preservada do estresse. E esse é o primeiro passo para se tornar mentalmente mais saudável e produtivo.
Além disso, esta é uma atividade muito relaxante. E ajuda na meditação. Dedicar ao menos 5 minutos a esse ambiente de silêncio interior parece pouco, mas a verdade é que não é tão fácil. A cada dia, podemos aumentar o tempo em 1 ou 2 minutos, até chegar aos 10 ou 15. O importante é você conseguir relaxar, oxigenar bem o cérebro, baixar a adrenalina, o stress e voltar a se sentir bem.
Concentração é a chave
Esta dica é especialmente interessante, porque funciona como um escape do ambiente de trabalho. Principalmente se trabalhamos em um local não tão calmo. Antes de mais nada, é importante saber que a meditação consiste em uma reprogramação do cérebro, para que ele seja capaz de digerir a maior quantidade de informação possível – mas de maneira clara, hierarquizada e organizada.
Após cumprir a primeira etapa (a do silêncio interior), agora a missão é estabelecer um tema na nossa cabeça, qualquer que seja ele – de preferência, nada que te relembre o trabalho que ainda terá de ser entregue até o fim do expediente.
Com os olhos fechados, podemos pensar num cenário que nos dê prazer (eu, normalmente, gosto de pensar em uma praia deserta, com águas claras, bem linda. Por exemplo, a Praia do Sancho). E vamos adicionando itens a ele, sempre explorando cada item em suas dimensões, suas particularidades, seus aromas, seus significados dentro do cenário que escolhemos.
Neste processo, percebemos que, quanto mais itens adicionamos, mais tranquilos nos sentiremos, incluindo nossa respiração.
Insistir sempre, não desistir jamais (never give up)
Nem sempre conseguimos cumprir as metas acima logo de primeira. Mas devemos insistir, porque só a repetição ensina o cérebro. Afinal, no pain no gain. Isso serve para o treino na academia, o dia a dia no escritório e o tempo que dedicamos à meditação.
No primeiro dia, podemos tentar durante uns 5 a 10 minutos ou, pelo menos, até conseguirmos formar o cenário na nossa mente. Não é necessário formá-lo completamente nas primeiras vezes. O importante aqui é agir como em um game de computador: criar um checkpoint para que no dia seguinte a empreitada se torne mais fácil.
Sabe aquela reunião na qual, em meio a uma série de distrações patrocinadas por participantes que insistem em falar ao mesmo tempo, se torna fundamental não perder o foco? Pois a meditação pode nos ajudar muito a superar esses momentos. Ela é uma companheira eficaz na resolução de problemas, pois evita que sejamos tragados pelo “ruído”.
Além disso, a meditação permite melhorar o relacionamento com os outros. Quem medita tem mais facilidade de entender as opiniões divergentes – e respeitá-las, apesar de não concordar com elas.
O mito do multitask
A expressão é moda há alguns anos – geralmente associada a uma pseudocapacidade das gerações mais novas (Y e Z) de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Pois acredite: isso não é cognitivamente possível. Ninguém faz várias coisas (e bem) ao mesmo tempo! Há uma grande diferença entre gerenciar diversos assuntos ou tarefas simultaneamente e, efetivamente, fazer diversas atividades ao mesmo tempo.
A meditação, por outro lado, nos permite ter total consciência de prioridade, uma qualidade fundamental no ambiente profissional – e ainda bastante rara. Isso porque, a partir do momento em que treinamos a nossa mente, ela passa a “entender” o que é, de fato, importante em uma lista de tarefas.
Como executivo com mais de 15 anos de atuação na área financeira nacional e internacional, interagindo com times nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Ásia, Suíça, México e demais países da América Latina, sei bem como uma mente estressada pode afetar o rendimento e a vida tanto profissional quanto pessoal.
E, por experiência própria, ao seguir os passos acima, nossa capacidade de raciocínio e o poder de resolver problemas serão aumentados progressivamente.
Namastê.
Lucas Medola, CFO do PayPal para a América Latina
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