Canhotos ganham menos, e outros fatos surpreendentes sobre eles
Os canhotos continuam tendo arqui-inimigos na sociedade contemporânea, como tesouras, carteiras escolares, abridores de latas, cadernos de espiral e os borrões de tinta nesses cadernos, entre outros. Mas pelo menos os preconceitos estão morrendo, e já não suspeitamos que os canhotos estejam associados ao diabo ou mais propensos ao crime, além de eles não serem mais forçados a tentar escrever com a mão direita.
1. Os canhotos ganham menos que os destros, segundo um recente estudo da Escola de Governo Kennedy, da Universidade Harvard, que analisou cinco pesquisas prolongadas (três nos EUA e duas no Reino Unido) que compilavam informações sobre a mão dominante, o grau educacional e os salários. O trabalho revela que 11% a 13% da população é de canhotos, e que esse grupo ganha em média 10% a 12% menos que os destros. Além disso, os canhotos têm resultados 3% a 4% inferiores em testes de matemática e leitura. Segundo o autor, as diferenças se reduzem fortemente quando são eliminados fatores ambientais. Por exemplo, no caso dos canhotos com mãe canhota, para quem a aprendizagem teria sido mais simples.
2. Podem ser mais criativos. Embora na média possam ter um pouco mais de dificuldade, há outras pesquisas segundo as quais existem mais canhotos do seria esperado em profissões e cursos como arquitetura e música, por exemplo. Essa associação entre canhotos e criatividade poderia se dever ao fato de o cérebro desse grupo ter uma estrutura mais flexível ou, simplesmente, por eles terem aprendido a desenvolver soluções mais imaginativas ao se depararem com um mundo preparado para destros. Seja como for, é preciso observar que muitos destes estudos costumam ser colocados em dúvida por não usarem amostras suficientemente amplas.
3. O cérebro dos canhotos teria uma estrutura mais flexível e simétrica que o dos destros, segundo o neurogeneticista Daniel Gerschwind. A preferência por uma mão ou outra se deve à assimetria do cérebro, embora o processo não seja claramente conhecido. A atividade da linguagem, por exemplo, se encontra sobretudo no lado esquerdo do cérebro, no caso dos destros. Para muitos canhotos, essa configuração é igual, ao passo que outros têm essa atividade localizada no hemisfério direito ou distribuída entre ambos. É preciso recordar que, embora seja verdade que os hemisférios têm funções diferentes, não há uma divisão tão clara como às vezes se diz.
4. Cinco dos sete últimos presidentes norte-americanos foram canhotos, incluindo Barack Obama. Isso representa 71%, contra os 11-13% que seriam estatisticamente esperados. Entre os últimos 15 presidentes, 7 foram canhotos (47%). Mas esses dados não são tão estranhos se levarmos em conta que a amostra é pequena. Ou seja, há poucos presidentes dos Estados Unidos, por isso é mais fácil obter um resultado distorcido.
5. O percentual de canhotos se manteve mais ou menos constante ao longo da história, como se deduz pelo estudo das pinturas rupestres do Paleolítico. A preferência majoritária pela direita teria nascido bem cedo: há fósseis de Australopithecus que mostram feridas na cabeça feitas por destros. Mesmo assim, não podemos nos esquecer de que os canhotos teriam tido uma vantagem significativa no caso dos combates corpo a corpo, como se explica a seguir.
6. É muito provável que um canhoto vença destros em disputas de tênis, boxe, esgrima ou qualquer outro esporte individual que implique confronto frente a frente. O motivo é que um canhoto está acostumado a enfrentar um destro, ao passo que um destro também enfrenta mais frequentemente outros destros. Há estudos segundo os quais os canhotos estão desproporcionalmente representados na elite desses esportes, como no caso do tênis. John McEnroe, Jimmy Connors, Martina Navratilova, Monica Seles e Rafa Nadal são alguns exemplos.
7. Os canhotos sofrem muitos preconceitos. Cesare Lombroso, pai da criminologia moderna, por exemplo, assegurava que entre os criminosos havia mais canhotos do que destros. Também se acreditava erroneamente que os canhotos corriam mais risco de sofrer esquizofrenia. E durante um tempo inclusive se achava que eles viviam menos, embora a explicação para isso seja simples: quanto mais velha fosse uma pessoa canhota, mais provável era que ela tivesse sido obrigada na infância a usar a mão direita, razão pela qual os canhotos “ativos” estavam sub-representados nos grupos mais idosos.
8. Em várias línguas, a palavra que designa os canhotos tem origem depreciativa. Em português ela deriva, segundo alguns filólogos, da mesma raiz da palavra cão, e dela também surgiu a palavra canhestro. Em espanhol, o termo zurdo poderia provir do celta tsucca, que significa toco de árvore ou, por extensão, pessoa atrapalhada e obtusa. Além disso, o adjetivo sinistro, presente em várias línguas românicas, procede do latim sinister, que significa esquerda (em italiano ainda hoje a palavra sinistra indica o lado esquerdo, em contraposição a destra). Em outros idiomas encontramos conotações similares para o lado esquerdo: em inglês, canhoto se diz left-handed, sendo que left (esquerda) provém de lyft, palavra do inglês arcaico que significava fraco. Em francês, assim como em português, substitui-se o sinister por um termo um pouco mais neutro, que nesse caso é gauche (canhoto é gaucher). Mesmo assim, na origem essa palavra significaria incômodo.
9. A maioria de mamíferos também tem um lado preferido, já que isso aceleraria o aprendizado, por concentrar todo o treino em uma só mão ou pata dianteira. No caso de cães e gatos, quase metade seriam canhotos. Quanto aos primatas, há estudos segundo os quais os chimpanzés são destros, outros que são canhotos, e finalmente alguns que concluem que essa pergunta não faz sentido, já que tal preferência seria posterior ao desenvolvimento da linguagem.
10. Alguns canhotos famosos: Bill Gates, Napoleão Bonaparte, Leonardo da Vinci, Marie Curie, Jimi Hendrix, Scarlett Johansson, Elizabeth II da Inglaterra, Paul McCartney, Greta Garbo e Ned Flanders.
11. À medida que envelhecemos, nossa habilidade melhora com ambas as mãos. Ou nos tornamos igualmente desastrados com ambas, segundo se enxergue.
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