Por Titi Vidal
Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um importante psiquiatra e pensador, criador da psicologia analítica. Ao longo de sua vida, estudou Astrologia e se interessava pelo tema especialmente em sua tentativa de compreender o universo, as pessoas, a alma humana e todos fenômenos que estudava. Podemos encontrar Astrologia em muitas de suas obras e estudos. Uma delas é o livro O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês, que escreveu com Richard Wilhelm. É um livro sobre a filosofia de vida oriental, no qual Jung tenta traçar um paralelo destes conceitos com a psicologia analítica. Ao longo do livro, faz algumas referências à Astrologia. Neste livro, Jung diz que a Astrologia “representa a soma de todo o conhecimento psicológico da Antiguidade” e, ainda, fala sobre “a possibilidade de se reconstruir o caráter de uma pessoa, a partir do mapa astral da hora do seu nascimento”.
Jung ainda nos lembra que “o que nasce ou é criado num dado momento adquire as qualidades deste momento”. Ainda neste livro, ao falar sobre a filosofia oriental, Jung aponta que “seu pressuposto inicial é o de que cosmo e homem, no fundo, obedecem às mesmas leis; o homem é um cosmo em miniatura, não estando separado do macrocosmo por barreiras intransponíveis. São regidos pelas mesmas leis e há uma passagem ligando uma situação à outra. Psique e cosmo comportam-se como mundo interior e mundo ambiente. Portanto, o homem participa por sua natureza de todo acontecimento cósmico e está entretecido a ele, interna e externamente”. Outro livro no qual Jung fala muito sobre Astrologia é O espírito na arte e na ciência, um livro sobre fenômenos da história universal da cultura, cujo tema central é o indivíduo criativo enraizado no arquetípico. Nele, Jung fala sobre importantes personalidades da história e também sobre as relações e possibilidades psicológicas de conhecimento e criação artística. Neste livro, Jung dedica dois capítulos a Paracelso, o médico e alquimista, que utilizava Astrologia em seu trabalho. Segundo Paracelso, um médico que não utilizasse o cosmo em seu trabalho era apenas um pseudomedicus. Jung mostra que Paracelso “colocava o ‘firmamento’ dentro do corpo do homem”. Para ele, “o corpus do firmamento é o correspondente corpóreo do céu astrológico”.
Ele aponta, ainda, que “a constelação astrológica possibilita o diagnóstico” e também a terapia. Ou seja, “o remédio se encontra no firmamento”. Para ele “há no homem um firmamento como no céu”. Jung ainda traz teorias de Paracelso como “uma criança que é concebida já tem o seu próprio céu” e que “existe uma linea láctea no céu e em nós”. Ele diz que “a galáxia passa pelo ventre”. Outra obra importante de Jung na qual encontramos muita Astrologia é seu livro Sincronicidade. Neste livro, Jung apresenta sua teoria sobre sincronicidades, que são coincidências significativas, que tenham uma conexão cruzada. Por ter grande preocupação em constatar sua teoria de forma científica, Jung recorreu a outras áreas do conhecimento que pudessem comprovar ou ajudar a definir as sincronicidades. Entre elas, buscou o I Ching e a Astrologia, além de suas experiências e sonhos pessoais e de seus pacientes.
Jung considerava Astrologia uma sincronicidade já que para ele é uma coincidência significativa o fato de que os movimentos celestes refletem acontecimentos terrestres e vice versa. Para mostrar a possível relação entre Astrologia e sincronicidade, Jung fez um “experimento astrológico”. Para tanto, utilizou mapas astrológicos de casais, na tentativa de investigar a possível existência da ocorrência em grande escala dos aspectos astrológicos tradicionais que deveriam aparecer na combinação entre os mapas. Segundo a tradição, os aspectos mais presentes seriam conjunção Sol e Lua, a relação amorosa entre Marte e Vênus e as relações destes astros com o ascendente e o descendente. Assim, a intenção de Jung era investigar se havia maior número dos aspectos coincidentes Sol-Lua, Vênus-Marte nos mapas dos casados com relação aos não casados.
Jung lembra Ptolomeu, ao dizer que desde a antiguidade os principais aspectos envolvendo mapas de pessoas casadas são, em primeiro lugar, quando “O Sol, no homem, e o Sol ou a Lua na mulher, ou a Lua em ambos, estão em seus respectivos lugares em aspecto trígono ou sextil. O segundo grau é quando a Lua, em um homem e o Sol, em uma mulher, são constelados da mesma maneira. O terceiro grau é quando um acolhe o outro”. Ainda segundo Ptolomeu, “sua vida em comum será longa e constante, quando nos horóscopos dos dois cônjuges ou luminares geradores – Sol e Lua – são harmoniosamente constelados”. Ptolomeu considera “a conjunção de uma Lua masculina com um Sol feminino como particularmente favorável ao casamento”. Partindo de suas teorias, Jung realizou alguns experimentos. No primeiro deles, a conjunção entre a Lua (feminina) e o Sol (masculino) apareceu em primeiro lugar, o que confirmou a correspondência astrológica e alquímica tradicional do casamento com os aspectos entre o Sol e a Lua. Em primeiro lugar, encontrou a conjunção Sol-Lua e em seguida conjunções entre o ascendente (feminino) e vênus (masculina) ou entre Lua (feminino e o ascendente (masculino), apontando também que a Lua é menos acentuada nos homens que nas mulheres.
Em seguida realizou outra pesquisa, desta vez encontrando em primeiro lugar a conjunção entre ambas as Luas. Ademais, encontrou conjunções entre ascendente e Lua, Sol e Vênus, Sol e Marte e entre ambos ascendentes. Assim, este segundo experimento também confirmou a antiga tradição, na qual ascendente, Sol e Lua são “uma tríade que determina destino ou o caráter dos indivíduos”. Jung ainda fez mais um teste, no qual encontrou uma predominância de Marte e relações entre ascendente e descendente. Por fim, combinando os resultados de todos seus experimentos, Jung demonstrou que por mais que dependendo da forma como forem combinados os mapas e elaborado o teste, mesmo que os resultados sejam diferentes, “não impede que a conjunção clássica apareça”. Ou seja, a probabilidade “calculada para Sol conjunto Lua e Lua conjunto Lua representa uma quantidade bastante grande que poderia estar ligada a certa regularidade”.
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