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Tarot, o enforcado: Desvende e se beneficie dos mistérios dessa carta

por Titi Vidal

 

Olhamos para o décimo segundo arcano maior do tarô e encontramos um homem pendurado, de cabeça para baixo. A primeira reação, quase que instintiva, costuma ser a vontade de virá-lo ao contrário.

 

O nome “Enforcado” traz a ideia de que este homem pode estar à beira da morte, prestes a sufocar e morrer. Bem, se pensarmos que o próximo arcano é a Morte, de certa forma esta é iminente, mas não desse jeito que costumamos imaginar em um primeiro contato com a carta.

 

Quando olhamos calmamente para o Enforcado, notamos seu rosto tranquilo. Ele está em paz e quando chegamos mais perto, parece até que está meditando. Olhando atentamente, notamos que nem amarrado ele está. Ou seja, está ali porque quer ou, mesmo que ali tenha sido colocado contra sua vontade, continua apenas pelo tempo que quiser.

 

Uma experiência interessante para analisar melhor esta carta: seguir o primeiro impulso, e virar este Enforcado ao contrário, com a cabeça para cima e os pés para baixo. No lugar de um homem dependurado, enforcado, esperando a morte, veremos um homem meditando, tranquilo, refletindo em paz. Voltemos a virá-lo como estava e, agora sim, podemos analisar este Enforcado.

 

Durante sua jornada, O Louco já viveu muita coisa até aqui. Já constitui seus valores, ganhou experiência, amadureceu e passou por grandes mudanças. Por tudo que passou, estava sentindo-se forte, enérgico, cheio de si. Na carta anterior, a Força, percebemos todo nosso potencial. Então, quando achamos que conquistamos tudo, que já somos e temos tudo que desejamos, alguma coisa acontece e mostra nossa impotência. Passamos da ação à submissão, da atitude para a espera, da possibilidade de fazer o que desejamos, do nosso jeito, para a necessidade de esperar que algo aconteça. Já estamos vivendo a carta do Enforcado.

 

Neste ponto da jornada, temos que fazer uma pausa e olhar o mundo de outra forma. Não temos como enxergar com clareza sem olhar por outra perspectiva. Por isso, ele está de ponta cabeça. Ele precisa olhar de outra maneira. Sem isso, não é possível encontrar qualquer solução.

 

Esse é um dos sentidos desta carta: é preciso olhar a vida de outra maneira se queremos encontrar a resposta. É preciso fazer esse exercício de reflexão sob outro aspecto, de outra perspectiva, de outro lugar.

 

Além disso, é preciso manter a calma. Quanto estamos vivendo o Enforcado, não podemos ter pressa. Precisamos parar, independente do que esteja acontecendo. Temos que refletir lentamente e não temos outra alternativa. Por isso, esta carta é sempre um convite para reflexão, para a introspecção, para a meditação e o autoconhecimento.

 

Quando estamos vivendo o Enforcado, não temos qualquer controle sobre nossa vida. Os acontecimentos externos costumam ser caóticos e estamos nas mãos do destino. E como não temos o que fazer, concretamente, precisamos refletir, pois a única coisa que está em nossas mãos é a forma como podemos olhar a vida neste momento. Esse olhar pode fazer toda diferença na forma como vamos encarar as coisas.

 

Viver o Enforcado significa esperar. Não temos como acelerar os processos e situações externas e por isso temos que nos acalmar, pois ansiedade não combina com este momento. Enquanto esperamos, podemos escolher entre uma espera paciente e tranquila, ou angustiada e ansiosa.

 

Como o próximo arcano será o treze, a Morte, estamos às vésperas de uma grande mudança. Algo grandioso está para acontecer e, depois disso, nada será como antes. A carta da Morte traz uma transformação radical, profunda. Algo em nós ou em nossa vida vai morrer. Então, durante o Enforcado, temos que nos preparar para isso. Os processos de morte, incluindo mudanças e grandes transformações, sempre trazem alguma dor. Trazem a necessidade de reflexão, de preparo. Temos que saber o que estamos abandonando e o que, depois que a Morte acontecer, poderá (re) nascer. Somos como a lagarta, que está para se tornar uma borboleta…

 

No Enforcado não somos mais o que éramos, mas ainda não somos o que seremos. Estamos entre o ser e o não-ser. Entre o que já acabou e o que ainda não começou.

 

Por isso, podemos nos sentir sem referência, sem base, sem raiz. Nossos pés não estão conectados ao chão e isso pode nos deixar confusos, pois podemos nos sentir nadando à deriva, sem saber onde estamos e onde podemos chegar. Em alguns casos, é como se tivessem tirado o nosso chão.

 

Como já nos desconectamos do passado, das estruturas sólidas, do que tivemos que abandonar, podemos nos sentir de mãos atadas, sem saber quem somos, como devemos agir, o que podemos fazer. Podemos nos sentir numa espécie de limbo e podemos ter sensações totalmente novas.

 

Na verdade, apenas estamos entrando em contato com nossa essência, com sentimentos e sensações desconhecidos, mas que sempre estiveram em nós. Também estamos conhecendo nossos sentimentos e sensações e por isso precisamos de tempo para gerir tudo isso. Por isso temos que ter calma e devemos saber esperar. Por isso também este é sempre um ótimo momento para o autoconhecimento.

 

Como não temos controle das coisas, podemos sentir como uma fase difícil, e pode ser mesmo. Mas não precisa, necessariamente, ser assim, já que, quando estamos falando sobre o Enforcado, o sentimento que acompanha o momento depende totalmente de nós mesmos, da forma como enxergamos e sentimos o mundo que estamos vivendo.

 

Este também pode ser um momento de sacrifício, quando decidimos abrir mão de alguma coisa que nos era valiosa em nome de alguém, de alguma coisa, ou de algo maior. Este sacrifício, em geral, é voluntário, mas pode ser sofrido quando nos percebemos desconectados daquilo que nos era tão importante. Até porque ainda não sabermos o que acontecerá depois que o processo de mudança estiver completo, não conhecemos o que vem pela frente, nos resta apenas ter fé e saber esperar.

 

O Enforcado é um momento de gestação. Não podemos pular etapas. A gravidez deve respeitar um determinado ciclo e se o nascimento acontece antes da hora pode trazer sérios problemas. É assim também quando estamos vivendo uma mudança acompanhada do Enforcado. Pular etapas pode implicar numa morte definitiva, assim como acontecerá com a lagarta não passar por todo processo e por toda dor antes de se tornar uma borboleta.

 

Assim, se estamos vivendo o Enforcado, temos que saber esperar. Temos que confiar mais em nós mesmos e no que estamos sentindo. Além de nós mesmos, só podemos confiar em algo maior, que pode ser o que chamamos espiritualidade, Deus, ou algo nessa linha. Nada além disso, porque não temos referências concretas do que vai nos acontecer. Não temos controle de nada e não podemos acelerar as coisas. Estamos na expectativa e sem fé, calma e confiança, não daremos conta de atravessar bem essa fase.

 

Por isso, nos resta olhar para dentro, refletir, esperar, acreditando que a morte pode ser positiva, que uma porta nunca se fecha sem que outra se abra em seu lugar. Temos que acreditar que se já não somos mais quem éramos antes, é porque podemos nos tornar uma pessoa muito melhor. Se abandonamos algo é porque temos algo maior para abraçar. Se nos sacrificamos é porque algo merece esta nossa dedicação. Temos que confiar que podemos morrer porque vamos renascer, que podemos abandonar o passado porque o futuro nos espera, que podemos sair do casulo porque quando nos transformarmos em borboleta poderemos voar.

 

O Enforcado é aquele momento que antecede todas as grandes mudanças, onde estamos entre o ser e o não ser, entre o que já foi e o que está por vir. Mas justamente por estarmos no meio de duas coisas, temos que processar, digerir todo processo, finalizar todos os ciclos, e preparar a fase nova, conectados com a alma, conscientes de que todo processo, no fundo, depende de nós. Por isso temos que viver um dia de cada vez, com calma e confiança, com fé e certeza, sabendo que a qualquer momento o processo estará completo e nós estaremos de novo em pé, transformados, novos, com um mundo de novas possibilidades pela frente.

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