Por Professor Paulo Sérgio
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Por mais que amemos as pessoas, tomar decisões no lugar elas é uma das maneiras mais fáceis de prejudicá-las e de nos estressarmos.
Crianças e pré-adolescentes precisam que as pessoas adultas tomem decisões importantes por eles, mas, depois de certa idade precisamos parar de decidir pelos outros.
Na verdade, até mesmo as crianças precisam aprender a tomar decisões. Elas aprendem rápido: mesmo com dor no coração, é só você não dar mamadeira ou não trocar fraldas que logo vai notar como elas são ágeis em aprender!
É importante que um dia elas coloquem a mão no fogo e percebam o quanto isso dói. É produtivo que caiam tentando agarrar-se à perna da cadeira, chorem bastante, e notem que mesmo sem a ajuda dos pais elas conseguem se levantar.
Às vezes, com a maior das boas intenções, acabamos prejudicando a evolução, principalmente, de quem amamos.
Digamos que seu filho seja fera no futebol, porém, você é advogado e sonha que ele siga sua profissão. Desde os 11 anos ele fala que quer ser jogador de futebol. Técnicos de escolinha, amigos seus, professores falam sobre o talento do menino, mas, você é irredutível e, no fim das contas, manda o discurso: “enquanto estiver sob o meu teto, vai estudar para ser advogado e pronto”.
Sua intenção é fazer mal ao seu filho? Claro que não. Por amá-lo tanto é que quer protegê-lo. Você sabe das dificuldades e da ilusão pelas quais muitos jogadores de futebol passaram, e se frustraram, talvez, até conheça muitos que se doaram nessa trajetória, mas, infelizmente viram o sonho se transformar em pesadelo.
Por isso você quer proteger seu filho.
Mas, por mais difícil que seja, o ideal é permitir que o filho alce o próprio voo. Ajudá-lo a enxergar os obstáculos que a profissão de jogador tem, mostrar as desilusões e as consequências dolorosas que ele poderá sofrer são essenciais, porém, cortar suas asas antes que tente voar é mais dolorido ainda.
Sim, ele pode quebrar a cara e ficar muito triste com os resultados ruins que obtiver no caminho que escolheu, mas, provavelmente sua tristeza sequer se comparará a de nunca ter tentado.
O duro da profissão de jogador é que ela vai contra todas as regras profissionais. Enquanto que na maioria das profissões começamos a ter resultados depois dos trinta anos de idade, um jogador nessa idade já está terminando seu ciclo.
Por outro lado, você não verá, ou, raríssimas vezes verá um menino de dezessete anos ganhando milhões por mês. No futebol você vê.
Meu filho de quatorze anos já quis ser padre, bombeiro, policial, jogador de futebol, pintor de quadros – e agora não sabe o que quer ser.
O outro de 10 anos quer, a todo custo, ser jogador de futebol e tem talento, principalmente, como goleiro. Mas, já tem uma segunda opção: ser palestrante e escritor! Deus o ajude que consiga se dar bem no esporte!
Todos nós temos sonhos que sequer tiveram a oportunidade de sair da mente, e sabemos o quanto é frustrante pensar neles.
Por melhores que tenham sido nossos resultados financeiros e materiais seguindo o caminho contrário aos nossos sonhos, sentimos que teríamos sido mais felizes se ao menos tivéssemos a chance de tentar realizá-los.
Quando tomamos decisões pelos outros, criamos pessoas autômatos, fantoches, sem opinião, que vivem esperando que o pai decida por elas, que o chefe tome a frente, que o colega de trabalho as ajude terminar o projeto.
Mais tarde, elas se estressarão por falta de capacidade e condições de andar com as próprias pernas, e, nós, que somos os responsáveis por sua falta de evolução, também nos estressaremos por vermos gente adulta com comportamentos infantis.
Conheço homens com mais de quarenta anos que vivem debaixo da saia da mãe. Nunca trabalharam, pois o pai morreu e deixou uma boa pensão para a família. A mãe, pelo trauma da perca do marido decide sustentar todas as vontades do filho, desde que ele fique com ela para sempre.
Na realidade, ela não pensa que depois da sua morte seu filho querido se verá em apuros... e sem pensão!
Como pai, sei da dificuldade que temos de “soltar” nossos filhos no mundo. Sabemos que eles passarão por dificuldades, terão decepções e tentamos evitar esse enfrentamento. Mas, estaremos dificultando em dobro a vida deles se não os deixarmos tomar suas próprias decisões depois de um tempo.
Eu me lembro do que uma psicóloga disse quando a mãe dos meus filhos contou que levantava de madrugada, no inverno, para ver se eles estavam bem cobertos, isso que eles tinham oito e quatro anos.
“Se o frio apertar, eles levantam se cobrir. Se a fome apertar, eles procuram comida. Se a dor for forte, eles passam pomada. Você precisa deixar que tenham atitude. Se não forem capazes de procurar coberta é porque merecem passar frio. Imagine o que serão na vida quando crescerem?”
Ela tinha razão. Às vezes “cuidamos” tanto dos nossos filhos que eles mal sabem atravessar a rua.
No desejo de protegê-los, criamos seres inanimados, que sofrerão e muito quando a necessidade bater à porta.
Também, casais em que apenas um toma decisões, acabam se estressando quando o outro precisa mostrar atitude.
Há maridos que não deixam a mulher ir ao banco pagar uma conta de luz. Fazem tudo. Recebem o pagamento, vão ao mercado, pagam as contas, compram roupas para toda a família.
Parece uma atitude nobre, mas, por um acaso do destino, se ele vir a adoecer e necessitar que a esposa cuide de tudo, inclusive dele, estará em maus lençóis, pois a pobre mulher só sabe cozinhar e limpar.
Profissionalmente, o bom líder sabe que terá que ensinar e carregar seu liderado por um bom período, mas, também compreende que terá de soltá-lo para que cumpra suas obrigações por conta própria, para que evolua na empresa.
Um líder centralizador, que não libera o potencial dos liderados tende a viver estressado, sem tempo, cheio de trabalhos que poderiam ser executados sem que precisasse a todo instante da sua opinião, afinal:
· A zeladora tem que saber servir o café;
· O departamento de compras tem que saber comprar;
· O vendedor tem que saber vender;
· O financeiro precisa cuidar do fluxo de caixa;
· A recepcionista tem que atender bem...
Se o líder precisa estar presente para que as coisas funcionem adequadamente, na verdade, ele não é líder – é um auxiliar com cargo superior.
Lógico que há decisões que precisam ser tomadas pelos líderes, afinal, é para isso que são pagos: para tomar decisões difíceis e, normalmente, desagradáveis.
Seja você líder de uma mega empresa, mãe, pai, permita que as pessoas tomem suas próprias decisões e assumam as consequências. Pare de:
· Se preocupar se levaram guarda-chuvas;
· Perguntar se estão com fome;
· Se querem ajuda;
· Encobrir seus erros;
· Ajudá-los a amarrar o cadarço;
· Forçá-los a tomar banho;
· Oferecer o casaco nos dias de frio;
· Colocar o cobertor;
· Fazer tarefas que é para seus liderados fazerem;
· Centralizar;
· Se preocupar com a vida dos outros...
Essas atitudes deixarão sua vida mais leve, e, por mais que inicialmente as pessoas que terão de caminhar por conta própria sintam o peso das responsabilidades, entenderão que, na verdade, aliviarão muito sofrimento e estresse no futuro.
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