Este texto versa sobre a importância da prática pessoal para a consecução do objetivo do Yoga. Esse objetivo é mok?a, a iluminação. Este artigo tem duas partes, das quais a presente é a primeira e está centrada na construção da prática pessoal. A segunda, cujo tema central é o alvo dessa mesma prática, está publicada neste website sob o nome "Sádhana é acertar o alvo".
O amigo leitor poderá considerar isto uma espécie de “fórmula” com algumas sugestões para elaborar sua prática pessoal, em harmonia com a maneira em que, tradicionalmente, estas práticas têm sido feitas. A sequência e maneira em que estas técnicas aparecem aqui listadas respeita rigorosamente a estrutura que aparece em algumas escrituras do Yoga, que citaremos logo a seguir.
A organização das diferentes práticas do Yoga em etapas ou membros é comum a quase todos os sistemas técnicos e continua sendo usada até hoje, para sistematizar a miríade de técnicas que o Yoga desenvolveu desde sua origem.
Em todas elas, há algo em comum: as técnicas são colocadas sequencialmente, sempre a partir da mais densa e em direção à mais sutil. Partindo das experiências do corpo físico e das questões relativas à vida cotidiana, essas práticas assumem uma progressiva sutileza, cuja culminação é o estado de liberdade e plenitude, chamado mok?a.
O modelo de sugestão de prática aqui apresentado está inspirado no saptas?dhana, a prática em sete etapas ensinada num antigo texto de Ha?ha Yoga chamado Ghera??a Sa?hit?, do século XV. Certamente, o esquema de prática da Ghera??a Sa?hit? está baseado no A??a?ga Yoga compilado pelo sábio Patañjali, do século IV ou III a.C., que já é certamente bem familiar para o leitor, e cujas partes são as seguintes:
1. Yama: prescrições de conduta,
2. Niyama: proscrições de conduta,
3. ?sana: posturas físicas,
4. Pr???y?ma: respiratórios,
5. Praty?h?ra: abstração sensorial,
6. Dh?ra??: concentração,
7. Dhy?na: meditação e
8. Sam?dhi: iluminação.
Esse sistema óctuplo recolhido por Patañjali, por sua vez, foi claramente inspirado no ?a???ga, uma prática em seis etapas que aparece na Maitr? Upani?ad, um texto de 3500 anos de idade. Acreditamos que esta prática, ?a???ga, só não é mais conhecida simplesmente por que não menciona nem lista posturas físicas de nenhum tipo. Isso não significa, necessariamente, que a postura não fosse importante, mas que talvez, por ser óbvia, não precisaria ser mencionada. O mesmo vale, tanto neste caso como no do sapta s?dhana citado mais abaixo, para a ausência de uma prática separada de yama e niyama. Os seis membros do ?a???ga da Maitr? Upani?ad são os seguintes:
1. Pr???y?ma: expansão da vitalidade,
2. Praty?h?ra: abstração sensorial,
3. Dhy?na: meditação,
4. Dh?ra??: concentração,
5. Tark?: questionamento, e
6. Sam?dhi: iluminação.
Estes dois modelos, por sua vez, deram lugar a vários outros, dos quais escolhemos aqui propositalmente o da Ghera??a Sa?hit?, por ser o mais familiar para o praticante de Yoga contemporâneo, uma vez que a maior parte das técnicas que aparecem listadas nessa obra são bem conhecidas. As demais obras medievais de Ha?ha Yoga, como a Ha?ha Yoga Prad?pik?, o Dattatreya Yoga??stra, o Yoga Y?jñav?lkya e outras, seguem igualmente esse mesmo modelo, com algumas pequenas diferenças nas listas, no número ou nos nomes das técnicas. Assim, as sete fases do saptas?dhana são estas:
1. ?a?karma: ações purificatórias,
2. ?sana: posturas psicofísicas,
3. Mudr?: selos para estabilizar a força vital,
4. Praty?h?ra: abstração sensorial,
5. Pr???y?ma: exercícios respiratórios,
6. Dhy?na: concentração para a compreensão, e
7. Sam?dhi: iluminação advinda do autoconhecimento.
Iremos analisar, primeiramente, a maneira de integrar as diferentes técnicas com as atitudes e cuidados que precisamos ter para que a prática seja uma fonte constante de alegrias e descobertas nesse fascinante caminho que é o autoconhecimento. Conjuntamente, iremos elaborar sobre o propósito e lugar que cada uma dessas técnicas ocupa no panorama do Ha?ha Yoga.
Para concluir, daremos algumas dicas para facilitar a prática. Cabe lembrar que estas dicas apenas complementam e não substituem, de maneira alguma, a instrução que devemos ter em sala de aula, em presença de um professor competente.
(Continua post...)
Fonte: Pedro Kupfer, Yoga.pro
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