São Bonifácio, o grande Apóstolo da Alemanha, era natural da Inglaterra. No batismo recebeu o nome de Winfrido, que mais tarde (pelo Papa Gregório II) foi mudado em Bonifácio.
Bonifácio nasceu no ano de 675, em Kirton, no Devonshire, filho de nobre família anglo saxônica. Tendo apenas cinco anos, manifestou o desejo de estudar num convento e receber instrução religiosa pelos sacerdotes. O pai opôs-se a esta vontade do filho. Ficando, porém, gravemente doente e atribuindo a enfermidade à sua resistência os desejos do filho e, portanto, considerando-a um castigo de Deus, deu consentimento e ficou curado imediatamente. Winfrido não achou só o que procurava, a instrução na religião e nas ciências: como sentisse uma forte inclinação para a vida monástica, entrou para a Ordem Beneditina, à qual os mestres pertenciam. Tendo alcançado a idade de 30 anos, recebeu o Sacramento da Ordem. Grande deve ter sido a estima em que o tinham os confrades; pois unanimemente o elegeram sucessor do Abade, que havia falecido. Bonifácio, porém, não aceitou a dignidade, que a confiança dos confrades quis conferir-lhe. Alegando um forte desejo de pregar o Evangelho aos pagãos, obteve a licença de, com alguns companheiros, se dirigir a Roma, para pôr-se à disposição do Sumo Pontífice.
Gregório II recebeu-o mui cordialmente e deu-lhe amplas faculdades de missionário apostólico. Bonifácio, seguindo um impulso do coração, escolheu a Alemanha para campo de sua missão. De Roma dirigiu-se diretamente à Baviera e Turíngia, onde a fé cristã se achava em completa decadência, devido à grande familiaridade que reinava entre cristãos e pagãos.
Seis meses trabalhou Bonifácio na Turíngia, pregando, instruindo e chamando os cristãos à emenda e à reforma dos costumes. O resultado foi consolador; pois a Turíngia toda abandonou a idolatria e voltou às práticas da religião cristã.
Antes da viagem à Roma, Bonifácio tinha iniciado a pregação na Frisônia. O resultado, porém, foi tão pouco animador, que resolveu interromper a Missão. Chegou entretanto, a notícia da morte de Radbod, duque de Frisônia, o homem que mais se opusera à pregação da doutrina cristã. Removido este obstáculo, Bonifácio achou favorável a ocasião de recomeçar o trabalho naquele país.
Obedecendo a uma voz interior, que o chamava ao apostolado da Frisônia, dirigiu-se a Utrecht, onde, em companhia de Wilibrordo, primeiro bispo daquela localidade, passou três anos pregando e trabalhando, na cidade e fora.
O resultado foi a completa extinção da idolatria naquela região e um florescimento belíssimo, da religião de Cristo. Wilibrordo, vendo as grandes aptidões de Bonifácio, manifestou o desejo de tê-lo como sucessor, na direção da diocese. Bonifácio, porém, alegando ter do Papa recebido a missão de pregar o Evangelho na Alemanha, saiu de Utrecht, e se dirigiu para Hessen. Dentro de pouco tempo, milhares de idólatras largaram as superstições e abraçaram o cristianismo. Tão abundante foi a messe, que Bonifácio se via impotente para trabalhará sozinho. Chamou, então, da Inglaterra, em seu auxílio, missionários e freiras. Construiu igrejas e conventos, e abriu escolas.
Num relatório que mandou a Roma, expôs o estado e o progresso da Missão.
Célebres se tornaram alguns destes religiosos. Entre eles figuram os monges Beneditinos: Burcardo, Wilibaldo, Wunibaldo, Sola, Wigberto. As primeiras monjas, da mesma Ordem, que vieram para a Alemanha foram Walburgis, Lioba, Tecla, Cunihilda e outras mais.
Sumamente admirado dos grandes resultados obtidos na cristianização da Alemanha, o Papa Gregório II desejou conferenciar pessoalmente com Bonifácio. Na segunda viagem a Roma o missionário foi recebido pelo representante de Cristo com grandes honras e foi nesta ocasião, que Gregório lhe conferiu a sagração episcopal, mudando-lhe o nome de Winfrido para Bonifácio. Bonifácio fez nas mãos do Papa o juramento de defender sempre a pureza da fé e a unidade da Igreja e voltou para a Alemanha com uma recomendação pontifícia para Carlos Martello.
Bem enraizada estava a idolatria nos corações dos alemães e foram preciso muito trabalho, sacrifício e orações, para trazer aquela nação ao aprisco do Divino Pastor. Em Goslar existia um carvalho, árvore multissecular, de que os germanos pretendiam ela possuir a força de Odin, e que gozava de grande veneração. Em vão São Bonifácio se esforçava par convencer o povo da fraqueza dos deuses e da falsidade do culto de Odin. Muito menos conseguiu que os idólatras deixassem de prestar culto àquele carvalho. O pavor deles se apoderou quando um dia viram São Bonifácio dispor-se a derrubar o célebre santuário nacional. Nem pedidos, nem ameaças puderam demover o Apóstolo desse intento. Os germanos já lhe previam a morte certa, e apavorados fugiram do lugar, para não serem alcançados pelo raio fulminante de Odin. São Bonifácio só uma machadada vibrou contra o tronco gigantesco do carvalho, quando este se abriu em quatro partes, que com fragor caíram por terra. Este milagre abriu os olhos dos pagãos e, convencidos da impotência dos seus deuses, abandonaram a idolatria. A madeira do célebre carvalho serviu para a construção de uma igreja que São Bonifácio dedicou a São Pedro. Outra igreja foi construída na Turíngia, lugar onde São Bonifácio teve uma aparição de São Miguel, que o animava a continuar corajosamente nos trabalhos apostólicos.
Negócios importantes obrigaram-no a ir, pela terceira vez, a Roma. Gregório III recebeu-o mui paternalmente, deu-lhe grandes faculdades e privilégios e revestiu-o da autoridade de Núncio Apostólico. De volta para a Alemanha demorou-se na Baviera, onde criou seis bispados. Célebres tornaram-se os conventos de Fritzlar, Erfurt, Amoeneburf e Fulda, todos fundados por São Bonifácio.
Estes conventos não eram só casas de oração, mas também outras tantas escolas e seminários, onde se preparava a falange de futuros missionários.
Em 747 a Santa Sé incumbiu a São Bonifácio da administração da arquidiocese de Mogúncia. Durante sete anos foi Pastor daquele rebanho, quando em 754 soube que grande parte dos Frisões tinham abandonado a fé voltado à antiga idolatria. Com consentimento do Santo Padre, entregou os negócios da diocese ao discípulo Lulo, e com alguns companheiros corajosos e dedicados, entre os quais Eobano e Adelar, fez longa viagem à Frísia. A chegada do Prelado foi abençoada por Deus. Ao verem o antigo missionário, muitos Frisões se converteram. Imensa foi a satisfação de São Bonifácio, pois uma messe tão abundante ia além das mais lisonjeiras esperanças. Para confirmar na fé o rebanho, Bonifácio marcou um dia, em que todos deviam receber o Sacramento do Crisma. Não havia igreja que comportasse os fiéis, tão enorme era a concorrência dos que desejavam ser crismados. Foram, então, feitas grandes toldas à maneira de acampamento, onde o povo se acomodasse. Chegou o dia do Crisma, dia também da morte do grande Apóstolo. O inimigo de Deus não podia ver com bons olhos a obra do bispo-missionário. No momento em que este e os companheiros se dispunham a administrar o Sacramento da Confirmação, apareceu um bando de facínoras, a mando do sumo sacerdote pagão, para assassinar o servo de Deus. Bonifácio, percebendo-lhes o maligno intento, deu graças a Deus por ter-lhe reservado morte tão bondosa e gloriosa e animou os companheiros a aceitarem a morte por Cristo. Com os santos Evangelhos na mão, dirigiu-se aos inimigos, os quais não lhe deixaram tempo para pronunciar uma só palavra. Com o punhal no coração, o santo Bispo caiu por terra e expirou.
Com ele foram assassinados mais 52 dos companheiros.
Assim terminou a vida de São Bonifácio, o grande Apóstolo da Alemanha. Oxalá Deus conserve o espírito desse grande Santo e dê à Igreja sempre Bispos e sacerdotes que, como São Bonifácio, não procurem senão a propagação da fé, a renovação do espírito de Jesus Cristo em si, nos súditos, a santificação da própria alma e das almas que lhe são confiadas.
O corpo de São Bonifácio foi levado a Utrecht, onde passou para Mogúncia para afinal achar sepultura definitiva em Fulda.
Muitos milagres lhe observaram no túmulo, fato que muito concorreu para que São Bonifácio se tornasse um dos santos mais populares e venerados na Alemanha.
O rei Luiz I, da Baviera, erigiu na capital suntuosa basílica, em homenagem ao Apóstolo da Alemanha.
Desde muitos anos, é o túmulo de São Bonifácio o lugar onde os Bispos da Alemanha, de tempo em tempo, se reúnem, para, sob os auspícios de seu grande modelo e protetor, realizar as conferências episcopais.
REFLEXÕES
Eis a vida de um grande missionário; vida de trabalhos, de perigos, de perseguições, no meio de povos bárbaros, destituídos da cultura cristã. A tudo isto São Bonifácio se sujeitou e sofreu o martírio, para tornar-se cada vez mais semelhante a Jesus Cristo.
Que fazes no serviço de Deus e pela santificação de tua alma? Não és um escravo do egoísmo, do orgulho e do comodismo? A menor contrariedade que surge, não te faz perder a paciência e outros sofrerem? Se assim é, pouca ou nenhuma semelhança com Jesus tua alma apresenta. Para seres curado do egoísmo, do orgulho e do comodismo, não existe remédio melhor do que a contrariedade, a tribulação. Se estas não faltam, é uma prova de que Deus te ama; do contrário, entregar-te-ia aos teus caprichos e pecados.
A tribulação é mestra excelente, que faz com que nos convençamos da nossa insuficiência e fraqueza e nos ensina a virtude.
Não há como a tribulação, que nos ensina a sermos humildes, despretensiosos e condescendentes. Quem não se humilha na tribulação, não achará outra oportunidade. Na tribulação a alma acha a Deus e nele põe sua confiança, como diz o Salmista: “Porquanto em mim esperou, livrá-lo-ei; protegê-lo-ei, porquanto conheceu meu nome. Chamará a mim e eu o ouvirei; com ele estou na tribulação e livrá-lo-ei e glorificá-lo-ei” (Sl 90, 14).
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