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Qual o valor da vida?: E quando somos pegos com a notícia de uma doença inesperada


“A vida se renova na esperança de um dia novo”

Carlos Drummond de Andrade

 

 

Um livro lançado no final de 2010 nos Estados Unidos tem sido considerado um dos grandes destaques editoriais dos últimos anos; uma verdadeira biografia do câncer. O “Imperador de todos os Males” (The Emperor of all Maladies), esperado ainda este ano no Brasil, de autoria do médico oncologista indiano, radicado nos EUA, Siddhartha Mukherjee, vencedor do Prêmio Pulitzer 2011. Em suas páginas iniciais há uma citação da escritora norte-americana Susan Sontag, trecho que também inicia o livro, “Doença como Metáfora”, escrito quando a autora se recuperava de um câncer, em 1978, que diz, em tradução livre:

 

“A doença é o lado escuro da vida, uma cidadania mais onerosa. Todos que nascemos temos essa dupla cidadania, no reino da saúde e no reino da doença. Embora todos gostaríamos de usar só o bom passaporte, mais cedo ou mais tarde, cada um de nós é obrigado, pelo menos por um tempo, a se identificar como cidadãos daquele outro lugar”.

 

Essa é uma realidade que muitos teimam em ignorar. O calvário vivido neste momento pelo ex-presidente Lula é mais um exemplo disso. Infelizmente neste caso, ainda alvo de piadas de mau gosto e chacotas nas redes sociais. O câncer é uma doença que nivela as pessoas, e todos os pacientes oncológicos devem ser respeitados, incluindo privacidade e direitos, o que infelizmente não está acontecendo na cidade de Campinas.

 

Há menos de dois anos, um artigo de minha autoria perguntava, “Qual o Preço da Vida?” citando matéria publicada na época no semanário italiano  L’ Espresso que questionava  quem se julgaria no direito de decidir sobre usar ou não os novos medicamentos oncológicos de alto custo e as imensas dificuldades encontradas pelos pacientes com câncer para recebê-los. Cito também a dura realidade dos pacientes de Campinas, muitos deles impossibilitados de receber os tratamentos mais avançados, devido às dificuldades impostas pelas operadoras de saúde, incluindo as cooperativas, que querendo baixar seus custos, acabaram com a livre-escolha, direito de todos os pacientes, também garantido pelo Código de Ética Médica. Essas empresas passaram a direcionar os pacientes oncológicos aos seus serviços próprios, privando-os do direito de serem tratados pelos seus médicos de confiança e também impedindo os médicos do direito de tratá-los.

 

No dia 18 de Outubro foi o Dia do Médico e no dia 20 do mesmo mês, o médico Roberto Luiz D’Avilla, atual presidente do Conselho Federal de Medicina, assinou artigo denominado “Qual o Valor da Medicina?”, que salienta a importância de se valorizar a Medicina para reforçar a existência humana e da importância da melhoria das condições de trabalho e o respeito à autonomia do profissional médico no atendimento dos seus pacientes. No artigo, o Dr. D’Ávilla, prega a necessidade de consolidar-se a luta contra as operadoras de saúde, cuja cultura de lucro ignora a vida e apoia a manifestação dos médicos contra os abusos cometidos pelos planos de saúde. Convoca a sociedade a acompanhá-lo nessa jornada para juntos mostrarem o valor da vida.

 

Hoje o câncer atinge a todos indistintamente; a presidente Dilma Rouseff, agora o ex-presidente Lula, outros líderes latinos da atualidade também estão às voltas com o tratamento. Os famosos são direcionados aos melhores hospitais e aos médicos de referência nacional. Aos pacientes do “mundo real”, o que resta? Filas imensas, guias e mais guias, negativas das operadoras e para muitos cidadãos, somente medidas judiciais para preservar os direitos para o tratamento.

 

Além de todo medo, após receber o diagnóstico de uma doença grave, o paciente ainda sofre com as dificuldades relacionadas a impossibilidade de receber seu tratamento, inclusive não poder contar com seu médico de confiança. Devemos todos levantar uma bandeira, seguindo a convocação do presidente do Conselho Federal de Medicina, para que os direitos de todos os pacientes com diagnóstico de câncer sejam assegurados e que possam ser acompanhados e tratados por seus médicos, sem as restrições impostas por planos de saúde.

 

Vivemos apenas uma vez. Nossa vida tem um valor inestimável e não deve ser objeto de manipulação por operadoras de saúde, como se fosse uma mercadoria. Os Direitos dos pacientes com câncer têm que ser respeitados, não podendo ficar na dependência dos resultados de recursos judiciais, gerados pelas imposições criadas por dirigentes dos planos de saúde.

 

O valor da vida e da Medicina deve ser respeitado!

 

Fonte: Dr. Juvenal Antunes Oliveira Filho é médico oncologista da Oncocamp.

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