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Bhagavad-Gita: Um texto clássico da cultura védica

Por Paulo Santana*
 
A Bhagavad-Gita é um livro bastante conhecido até mesmo aqui, no ocidente, apesar de não ser explorado de forma mais ampla.  Ele faz parte do grande clássico indiano Mahabharata, o maior épico do planeta. Mesmo a Ilíada e a Odisseia juntas não alcançam seu volume.
 
Essa Bhagavad-Gita (a Canção de Deus) compreende os capítulos 25 ao 42 da divisão Bhishma-parva do Mahabharata. Também chamada de Gitopanishad (upanishads fazem parte do Veda) devido ao seu alto teor filosófico, ela agrega, resumidamente, todo o conhecimento do Veda.  Esse diálogo entre Krsna e Arjuna é passado em um momento anterior à famosa guerra de Kurukshetra.

Nessa conversa, Arjuna, apesar de ser um companheiro eterno de Krsna e, consequentemente, estar liberto das amarras materiais que tanto nos prendem a este mundo, faz o papel de homem comum.  Muitos tradutores desses escritos dizem que ele estava iludido de verdade.  Porém, estes mesmos, devido às próprias características apresentadas pelo personagem de Arjuna, perdem-se por não estudarem a Gita como ela mesma se apresenta. 

Assim como todos prestam atenção em grandes personalidades, Arjuna (o maior arqueiro de sua época) chama para si os questioamentos da alma enclausurada neste invólucro carnal.  Por isso, esse diálogo torna-se um clássico.

Não desejoso de lutar, pois teria que enfrentar parentes, amigos e até mesmo seu amado mestre de armas, Arjuna anseia por desistir daquele combate.  Krsna, porém, sendo o próprio Bhagavan (Deus) dessa canção (Gita) incitá-o à batalha.  Krsna começa seus argumentos com os princípios básicos que o neófito deve aprender na senda espiritual (infelizmente até nisso ainda engatinhamos!). Ele, Krsna, no segundo capítulo dá uma amostra de Sankhya, discernindo sobre a diferença entre matéria e espírito. Também discorre sobre ação e inação; quem age, quem deixa de agir; o que é agir, o que é não agir, ou seja, ensina sobre as complexidades do karma (terceiro capítulo).
 
Aos poucos as dúvidas de Arjuna vão se dissipando , já que ele também representa o discípulo perfeito como vemos no primeiro capítulo, ao contrário de seu oponente , Duryodhana.  Esse capítulo é muito importante pois podemos claramente comparar a atitude dos dois sisyas (discípulos).  De forma gradual, esses ensinamentos vão se intensificando a medida que Arjuna amadurece no conhecimento.  Assim, ele nos mostra que o aluno deve despir-se do seu pseudo intelecto e render-se humildemente a seu guru. 

O ápice desse diálogo aparece no último capítulo ( o décimo oitavo).  Arjuna , revigorado devido às palavras melífluas de seu guru perfeito e tendo os nós da ignorância cortados pela espada do conhecimento transcendental vai à luta em consciência plena de seus deveres, direitos e atos.  Ele agora , livre da lamentação mundana inicial , conhece quem está por trás de tudo , a quem deve se entregar , a quem deve amar.  A ilusão desse mundo efêmero já não o afeta pois está sendo guiado em sua quadriga pelo próprio Bhagavan Sri Krsna.  Dessa maneira ele dirige-se ao centro da batalha.   
 

(*) Paulo Santana é um estudioso da cultura védica. Contato: 2267-1253 * [email protected]

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