Por Paulo Santana
Muitas vezes erroneamente chamado de 'deusa’, 'deus da destruição' e etc., Shiva é mal compreendido. Em verdade, na antiga região que hoje é denominada de Índia, Shiva, apesar de ser divino, tem em si o princípio masculino, tanto que é casado com Parvati, o princípio feminino.
Neste artigo vamos falar um pouco de seus atributos.
Vemos que ele sempre carrega um tridente. Cada ponta afiada dessa arma representa um aspecto inconveniente para a alma encarcerada pelos limites do corpo e da mente. Os processos devastadores da natureza tais como enchentes, secas e vendavais, são sua primeira ponta. Entidades vivas como escorpiões, cobras, vírus maléficos e o pior deles -nossos irmãos humanos - constituem a segunda ponta. Paranoias, medo, ansiedade, formam a terceira ponta, ou seja, aflições causadas por nossa própria mente.
Não devemos considerar isso como um tipo de ira divina, mas sim como avisos de Shiva para não esquecermos, ou ainda mais, nos lembrarmos de nossa verdadeira natureza espiritual, onde essas misérias não existem.
O pequeno tambor que ele carrega, as vezes convenientemente pendurado em seu trishula (tridente em sânscrito), representa o poder dos mantras em nos despertar para a realidade espiritual, nossa herança por direito. Esses mantras, quando dados por um mestre autêntico, são a arma mais poderosa contra a ilusão material.
Aquele jato de água que jorra em sua cabeça é o sagrado rio Ganges, que flui diretamente da plataforma transcendental para este mundo temporário. Ela é a 'bifrost' (a ponte que liga o plano superior a terra na cultura nórdica) védica e nos sugere que, além de precisarmos estar sempre com a mente limpa de desejos fúteis, temos que nos transformar em intermediários do plano subjetivo e, como um rio, tornar férteis os terrenos (corações) por onde passarmos.
Sri Guru, o mestre fidedigno, sempre diz que devemos fazer um bom uso de um mau negócio. Assim Shiva o faz. Com a serpente enrolada em seu pescoço, que representa a falsa concepção da identidade, assim como a poderosa energia sexual, que nada mais é do que o amor a Deus, tingido com as fortes cores do falso egoísmo, Shiva a domestica e a tem como amiga e guardiã. Uma vez transmutada pela fervorosa devoção espiritual, seu veneno torna-se um soro pleno de néctar.
Embelezando-o ainda mais encontraremos em Shiva uma lua em seu cabelo. Sabemos que esse planeta (sim, na cultura védica ela é um planeta) é muito inconstante, tem várias fases. Porém o sábio não é assim. Ele segue a linha reta do dharma (conduta de acordo com os vedas) e não é levado ao sabor das caprichosas ondas da mente, pois ele a conquistou. Agora ela é mais um adorno em seu eu para ser admirado.
O seu terceiro olho em posição vertical, representa a verdadeira visão interior, untada com a polpa do amor divino. O ignorante pensa que seu (de Shiva) olho está em posição trocada e critica o sábio tolamente devido à sua pobreza de horizontes transcendentais.
Por fim chegamos a sua montaria, o touro Nandi. Como veículo de Shiva, Nandi o leva aonde quiser por estar totalmente domado, da mesma forma como uma pessoa que possui conhecimento espiritual controla os primitivos instintos animais e os sublima em relacionamentos divinos.
Portanto, devemos sempre orar a Shiva para que ele jogue nossas impurezas no fogo transmutador de sua dança cósmica e faça com que a leve fumaça surgida dessa combustão misericordiosa suba com tranquilidade e amor, assim como uma humilde oferenda aos pés de lótus do Senhor Supremo.
(*) Paulo Santana estudioso da cultura védica. Contato: 2267-1253
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