Dá-se o nome de Asana à posição que o corpo deve adotar na prática do Hatha Yoga. Cada Asana forma uma unidade completa e quando corretamente executado produz os seguintes efeitos:
1.- Movimenta determinados músculos, ossos, articulações, habitualmente diferentes, ou pelo menos de modo distinto do que é usado na vida corrente.
Nossa habitual vida cotidiana está formada por um número limitado de gestos e movimentos, quase sempre os mesmos, para os quais se utilizam, como é natural, os mesmos músculos. Mas existem outros muitos que apenas fazemos trabalhar em poucas ocasiões. Com o conjunto dos Asanas consegue-se que esses músculos esquecidos entrem em ação, o que, além dos salutares efeitos fisiológicos correspondentes, produz uma sensação de prazer muito curiosa. Assemelha-se à que se experimenta quando, após permanecermos várias horas imóveis numa posição forçada, podemos trocar enfim a posição: uma sensação de alívio, de frescor, de descanso.
2.- Exerce uma ação mecânica sobre diversas vísceras e glândulas, estimulando seu melhor funcionamento por meio de compressão ou massagem realizadas desse modo natural.
Este é um dos efeitos mais notáveis do Yoga. Graças a esta ação é possível influir em seu funcionamento de um modo perfeitamente natural. É sabido que grande parte das doenças tem origem num defeituoso funcionamento glandular ou dos órgãos do aparelho digestivo. Nos laboratórios yogues de Rishikesh e de Lonavla, na Índia, comprovou-se a grande eficácia dos Asanas, não somente para fortalecer ao máximo o organismo, como também para curar todos os seus transtornos funcionais.
Mas o benefício dessa ação glandular e visceral dos Asanas não pára aqui. O bom funcionamento do aparelho digestivo, isto é, sua completa limpeza interna, produz um notabilíssimo estado de consciência que poderíamos definir como "de claridade e leveza". Na realidade, observa-se aqui claramente que o homem pensa e sente com todo seu organismo e não somente com seu cérebro.
3.- Favorece a atividade de determinados nervos e plexos nervosos, o que produz, além do seu efeito físico, uma modificação em profundidade e amplitude da sensibilidade interna.
A ciência afirma que nossa atividade psíquica se realiza, no que depende do corpo, graças à ação de transmissão efetuada pela sutil e complexa rede de nervos e estruturas nervosas do encéfalo e da medula espinhal. Por conseguinte, é claro que o perfeito funcionamento deste sistema produzirá efeitos surpreendentes no psiquismo. Mas, segundo a tradição yogui, paralelamente ao sistema nervoso, existe no homem uma rede de condutos chamados nadis, através dos quais circula uma energia, verdadeira base da energia nervosa, conhecida sob o nome de prana. Esta parte sutil do sistema nervoso é a que, na realidade, permite a atividade psíquica, do mesmo modo que o sistema nervoso torna possível toda a atividade física e fisiológica dentro do organismo. Segundo, pois, o ensinamento tradicional do Yoga, é o efeito exercido pelos Asanas sobre os vários nadis e chakras (centros de energia) que, favorecendo uma melhor circulação prânica, permite a obtenção de novos estados de consciência, mais amplos e profundos.
4.-Modifica o curso da circulação sangüínea em todo ou parte do corpo, removendo toxinas e revitalizando os tecidos.
É coisa sabida que a circulação sangüínea possui dupla função dentro do organismo: proporcionar a todas as células do corpo o oxigênio e as substâncias nutritivas indispensáveis para seu metabolismo, e levar os resíduos desse metabolismo para os órgãos eliminadores, que nesse caso são os rins e os pulmões. Quanto melhor irrigado está um órgão, maior vitalidade possui.
O Yoga, favorece esse processo e utiliza a circulação do sangue de outro modo ainda: como estímulo mecânico. Em determinados Asanas suprime-se quase inteiramente a circulação de certas regiões devido à pressão exercida sobre esse ponto, e ao desfazer o Asana, em virtude do impulso circulatório, o sangue penetra de modo torrencial, sob pressão, realizando uma verdadeira lavagem no local trabalhado. Portanto, é uma autêntica revitalização de todos os pontos mais importantes do organismo o que se consegue, juntamente com outros efeitos, mediante a prática dos Asanas do Hatha Yoga.
5.- Constitui uma porta por onde a consciência do homem, devidamente despertada e integrada, pode aprofundar-se e estender-se até além de sua habitual limitação pessoal.
O enunciado deste ponto refere-se aos resultados avançados da prática dos Asanas. Segundo a tradição yogui, à medida que se vão aperfeiçoando os exercícios, vai-se unificando a consciência e mais para a frente continua aumentando em profundidade e em amplitude, até chegar a descobrir experimentalmente novos vínculos que unem a todos os seres da Criação.
Os grandes efeitos físicos e psíquicos produzidos pela prática do Yoga, evidentemente não podem ser o resultado imediato de uma prática mais ou menos apressada. A transformação do nosso organismo é um trabalho laborioso, que, além da adequada orientação técnica e de boa vontade, exige tempo. O mesmo acontece com a nossa vida psíquica: hábitos com vários anos de antigüidade não podem ser mudados radicalmente em quinze dias ou um mês. Estamos tão habituados a viver em nossos níveis superficiais, tanto físicos como mentais, que o aprofundar um pouco mais requer um bom trabalho. É claro que qualquer transformação autêntica e duradoura somente pode ocorrer quando operamos em nossos níveis mais profundos. Este aprofundamento, que parece muito difícil, à maioria das pessoas, é proporcionado quase automaticamente ao praticante de Yoga, através dos exercícios, mas exige tempo e dedicação.
A prática do Yoga produz, já desde os primeiros dias, efeitos sensíveis que se experimentam como uma mudança geral de atitude e uma disposição mais ampla e mais equilibrada para todas as coisas. É preciso, porém, não confundir. Tais efeitos são apenas conseqüência da remoção da agitação da camada mais superficial dos hábitos mais ou menos anquilosados, das atitudes, sãs ou não, que se foram cristalizando no decorrer do tempo. Mediante os exercícios preliminares, tudo isso se agita, se remove, permitindo sentir algo novo e vivo, o impulso vital, a energia da vida que jazia oculta, enterrada, por detrás das valas de inumeráveis atitudes artificiais convertidas em automáticas, isto é, aspectos da vida, livre e espontânea degenerados em algo mecânico e inconsciente.
É evidente, porém que não podemos nos contentar em sentir unicamente, em descobrir em nosso íntimo a existência de valores que havíamos quase esquecido. Não basta percebê-lo: é necessário adotar. Não basta conhecer: é preciso viver. É necessário nos transformarmos, nos renovarmos naquilo que realmente somos, que, por ser vida, é sempre uma coisa nova, fresca, viva, espontânea e complemente afirmativa. Tal processo de transformação total requer tempo e perseverança.
Não obstante, seria errôneo acreditar que tempo e perseverança significam esforço penoso. Nada disso. Se desde os primeiros dias o praticante de Yoga experimente efeitos agradabilíssimos não há razão para que não os continue experimentando durante toda a pratica do Yoga. De fato, cada exercício e cada minuto de prática efetiva incrementam o trabalho de transformação e, portanto, a capacidade de viver melhor.
Por Antônio Blay,
em "Fundamento e Técnica do Hatha Yoga", da Editora Loyola
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