Dalai Lama recebeu estrangeiros em uma palestra em Nova Delhi, organizada pela Vivekananda International Organization para um grupo pequeno de convidados, do qual tive o prazer de participar. De chinelos e já apresentando as marcas do tempo, Dalai Lama abre a boca e todos se emocionam pela grandeza de suas palavras simples. Em sua palestra, ele enfatiza e cobra dos indianos uma maior participação no apaziguamento das crises internacionais (ao lado de diplomatas indianos), lembrando a vocação desse povo pelo pacifismo herdado de figuras como Gandhi. Ele disse que quando era jovem, no início dos anos 50, e estava em Pequim como convidado do governo comunista, teve a oportunidade de participar da recepção ao primeiro-ministro indiano da época, Neru, um pacifista por natureza. Disse que quando chegou a vez dele de cumprimentar Neru, ambos ficaram de frente um para o outro e houve segundos de silêncio.
Naquele momento, ele teve visões de outras vidas e tão logo o primeiro-ministro passou para a próxima pessoa da fila, ele sabia que o destino deles já estava traçado, mas não sabia como. Ele ainda não sabia que a China invadiria o Tibete e que ele teria que salvar a própria vida e de milhares de tibetanos fugindo e se refugiando na Índia, onde Neru teria uma participação decisiva em salvar em acolher os tibetanos. Disse que há 50 anos acompanha a violência pelo mundo, especialmente a violação dos direitos básicos da liberdade humana, vivida na pele com a invasão chinesa do seu país e que os países desenvolvidos formaram várias grupos como G-6, G-8, G-20, todos apenas pelo interesse econômico, e que ninguém formou um grupo desses, até hoje, pela paz, por exemplo. Salientou que governos e povos têm promovido brigas e até guerras em nome de religiões e lembrou que a Índia é um país onde convivem em harmonia todas as religiões e seitas (com raras exceções).
“Podemos viver juntos e em harmonia”, repetiu ele, não só na Índia mas em todo o planeta. Que “qualquer ação que provoque compaixão e tolerância acalma a mente”. Que o governo comunista da China acha que falar de compaixão e tolerância é assunto político e isso é proibido, porque tudo é proibido na China. Lembrou que a “harmonia religiosa tem mais de mil anos na Índia”, que também considera sua terra, e que os líderes religiosos precisam tomar parte nas questões sociais, especialmente educação, para erradicar a pobreza e a ignorância, promovendo a integração, a tolerância o bem-estar social. Que os indianos precisam desenvolver mais o exercício de influência da paz e da harmonia não só dentro do país, mas junto aos países vizinhos, frequentemente envolvidos em conflitos e guerras por questões religiosas, como Paquistão e Afeganistão.
Repetiu que a liberdade de expressão “é fundamental”. Chamou a atenção para a destruição dos rios tibetanos, da ecologia, da necessidade de proteção das geleiras do Himalaia que já sofrem os efeitos do aquecimento global (3% já derreteram). A China não faz nada para proteger a ecologia e o meio-ambiente tibetano, vitais para a sobrevivência da população. Disse que a China precisa se tornar transparente para despertar a autoconfiança dos chineses. Finalmente, ele reforça que “a violência só controla o corpo físico das pessoas. Não controla a mente nem o espírito”.
* José Joacir dos Santos é doutor em psicologia
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