Por Noga Lubicz*
Pelo menos num ponto o conhecimento médico de todas as épocas está de acordo: a boa digestão e um intestino regular são essenciais para a boa saúde.
Vem-me à mente aquele sórdido comercial de TV, com a atriz bonitinha - de pele sedosa e cabelos brilhantes - afirmando: - "Para manter a saúde e a beleza, você deve comer muitas frutas, muitos vegetais frescos, tomar muita água. Mas se você não pode fazer tudo isto... Tome Lactopurga! Seu intestino vai ficar um reloginho e sua pele, uma seda!" Reflitam sobre o absurdo deste anúncio: se você não pode comer uma comida gostosa e nutritiva para manter sua saúde e seu corpo funcionando... Tome uma droga: torne-se dependente e faça a fortuna das empresas farmacêuticas!
Pense por si próprio: uma atitude inteligente
Visto sob outro ponto de vista, o do homo sapiens, independente, livre e dotado de mente e reflexão, o anúncio aí de cima se trai: o que ele nos oferece é a verdadeira receita para a boa saúde, que leva certamente à falência os produtores do Lactopurga: frutas, verduras frescas, alimentos integrais e muita água.
E o que existe por trás de tudo isso? Muita fibra!
As fibras são um componente básico de frutas, legumes, verduras e grãos integrais que não é digerido pelo organismo. Absorvendo água, elas incham até dobrar de tamanho, forçando o intestino a expulsá-las: isto diminui o tempo de trânsito dos alimentos no sistema digestivo, eliminam com maior rapidez as toxinas resultantes da digestão e otimiza a absorção dos nutrientes, mantendo nossa casa biológica limpa e funcionando bem.
Uma vantagem extra
A fibra, na verdade, é uma faxineira bem sabida: além de limpar a casa rapidinho ainda segura a onda do açúcar, evitando que ele caia no sangue todo de uma vez. Alimentos com muita fibra tem baixo índice glicêmico, assunto de nosso próximo artigo - um conceito recente que desvenda os mistérios do excesso de fome e vem revolucionando o conhecimento sobre dietas, compartilhando o trono com as calorias.
Evitando os males da civilização
Já sabemos que o avanço da civilização faz heróis e vilões. O conhecimento é certamente um dos heróis; o comodismo, dos vilões mais perigosos. O comodismo nos leva a consumir fast food, alimentos industrializados, refinados, quase mortos: é assim que caímos no conto da farmácia, que nos promete longevidade e saúde em pílulas, sem esforço: sem esforço, atrofiamos! Ainda bem que o herói do século 21, o conhecimento científico, nos faz despertar deste torpor. Mais uma vez, é aí que a fibra entra, fazendo o intestino se mexer!
Desvendando a regra básica: refinado, renegado!
Concluímos com esta regra básica e fácil de seguir: quanto mais refinado e processado o alimento, menor seu teor de fibras. O que nos leva aos alimentos frescos, como frutas, legumes e verduras, e aos grãos integrais. Para os integrais, outra regrinha simples: quanto mais moreno, mais saudável! Evite arroz e farinhas brancos, pois o refinamento que os deixa branquinhos tira deles o que tem de melhor. Quando possível, evite descascar as frutas e legumes, pois é na casca que mora grande parte das fibras. E um último segredinho, antes da cozinha: semente de linhaça, uma morena pequenina e eficiente, que já entra no intestino agitando. É vendida em todas as lojas de produtos naturais, e tão importante que breve voltaremos a falar dela; uma colher de sopa por dia, misturada aos alimentos, e adeus prisão de ventre!
Nossa receita de hoje: bonita, gostosa... e fibrosa!
Anéis de abobrinha
Ingredientes: 2 abobrinhas grandes, firmes e gordas, 2 colheres de sopa de arroz integral cru, 1 colheres de sopa de semente de linhaça, 1 cenoura descascada e cortada em palitos bem fininhos, 2 colheres de sopa de okara*, 1 copo de leite de soja, 1 colher de sopa de fécula de araruta, 2 colheres de sopa de alho-poró cortado fininho, sal, curry e noz moscada a gosto, salsa desidratada.
Modo de Fazer: Lavar as abobrinhas, tirar as pontas - deixando a casca - e cortar em anéis grossos de aproximadamente 3 cm de altura. Retirar delicadamente o miolo, com a ajuda de uma faca ou colher pequena, e reservar. Cozinhar o arroz em 4 copos de água, temperando com sal e curry, em fogo baixo. Depois de meia hora acrescentar o miolo das abobrinhas e a okara, deixando cozinhar em fogo baixo por mais meia hora; misturar as sementes de linhaça, mexendo sempre com a colher de pau até secar, formando uma massa quase uniforme. Colocar os anéis de abobrinha num pirex e rechear com a massa de arroz, colocando um ou dois palitos de cenoura no meio de cada anel. Dissolver a fécula em um pouco de leite de soja. Na panela, colocar o leite de soja restante, a fécula dissolvida, o alho-poró, sal, curry e noz-moscada a gosto. Levar ao fogo, mexendo sempre até engrossar. Reservar um pouco deste molho para montar o prato, e com o restante regar as abobrinhas. Levar ao forno para gratinar por 20 a 25 minutos. Colocar os anéis no prato, regar com o molho restante e salpicar com salsinha fresca bem picadinha. Servir imediatamente. Faz 2 porções.
*A okara é um subproduto do leite de soja caseiro. Bater no liquidificador 1 xícara de grãos de soja crus, deixados de molho na véspera, com 3 xícaras de água filtrada. Deixar bater por no mínimo 5 minutos. Filtrar num guardanapo, apertando bem. O líquido é o leite de soja, e a polpa que fica no guardanapo a okara, uma excelente proteína de soja concentrada que enriquece várias receitas da Culinária Evolutiva.
Cada porção contém: 189 calorias; 15,9% de gordura; 64,9% de carboidratos; 19,2% de proteína
3,3 g de gordura; 30,7 g de carboidratos; 7,5 g de fibras; 9,2 g de proteína; 0 mg de colesterol.
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