O conceito de sucesso humano é um tema muito antigo. De cultura para cultura o conceito de sucesso pode ser diferente, mas graças à velocidade na comunicação e ao tráfego global de ideias, o conceito de sucesso é aparentemente algo quase que universal. As diferenças culturais parecem não existir, salvo talvez em alguma sociedade tribal remota onde não se tem contato com as pessoas em geral. No entanto, o conceito de sucesso é praticamente reduzido a uma ou duas coisas: o sucesso no campo profissional ou a realização.
O sucesso é medido basicamente em termos da busca do conhecimento e em termos da busca econômica. Há um impulso para o sucesso em relação a ganhar mais dinheiro e mais reconhecimento na sociedade e este parece ser o conceito universal de sucesso nos dias de hoje. Eu não acho que essas buscas irão mudar, pois penso que este conceito vai dominar o coração das pessoas nos próximos períodos que virão. Mas, então, existe uma sensação de sucesso por parte do ser humano como um ser humano? Isso é muito importante.
AUTO-JULGAMENTO
Quando eu me esforço para ter sucesso, eu vou me julgar como um sucesso ou um fracasso ou como alguém que está lutando para se tornar um sucesso. Eu não me importo em lutar pelo sucesso por vários anos da minha vida. Até a meia idade luta-se pelo sucesso, pois há sempre uma esperança de que no próximo ano será diferente ou que os próximos dois anos vão fazer uma grande diferença na vida de alguém. Há esperança e há esforço para aquela pessoa que eu presumiria ser.
Mas, quando eu chegar a meia-idade, eu me dou conta que talvez eu tenha conseguido o que eu queria alcançar e ainda assim, eu vou me olhar apenas como uma pessoa. O julgamento não vai ser do ponto de vista do que eu consegui, mesmo que eu ache que as minhas realizações profissionais foram o que eu queria e mesmo que eu tenha feito tudo isso, ainda assim, eu vou olhar para mim, não apenas sob esse ponto de vista, eu vou me olhar como uma pessoa.
E essa vai ser a base para o meu julgamento sobre mim mesmo.Assim, na meia idade, como se costuma dizer, há uma grande crise, como se não houvesse crise antes. Na meia-idade a pessoa começa a perceber que não há esperança. Essa é a crise. Até então ela estava esperançosa de que as coisas seriam diferentes. Agora, ela percebe: "Eu já estou com 45. Que diferença vai fazer outros 45 anos a mais? E isso é um declínio de 45 anos, por isso eles não vão ser os mesmos."
A unidade, a energia, o entusiasmo todos mínguam lentamente. E isso indica que ele parece perceber a situação. E ele é obrigado a fazer um julgamento – aquele que ele não fez. Com o dinheiro está tudo certo, mas por si só não é suficiente. Alguém tem que aprovar o fato de eu ter ganho dinheiro e ainda pensar que eu sou maravilhoso.
Uma pessoa que teve sucesso financeiro e profissional a partir de um começo pobre, nem só pode achar que ela conseguiu isso tudo, mas também quer ter a certeza de que todos saibam disso. Ser filho ou filha de uma pessoa assim é uma tragédia. Todo dia pela manhã ela vai dizer: "Você sabe como eu estudei? Estudei sob as luzes da rua." Muito embora ela tenha feito isso, ela não assimilou. Então, ela tem que se vangloriar e obter a aprovação de todos porque ela fez dessa forma. Isso significa que por dentro, ela não acha que ela agiu assim.
A autocrítica parece não levar a lugar algum. Isso é um problema crônico que se torna agudo na meia idade. Então, você gostaria de trazer algumas mudanças em sua vida. Mas a mudança em sua vida pessoal não faz nenhuma diferença. É sempre a mesma, porque a pessoa é a mesma e é esta pessoa que vai fazer o auto-julgamento. E esse auto-julgamento é o problema do ser humano. É fácil dizer: "Não julguem."
O que as pessoas não entendem é que esta afirmação reflete um julgamento. Não há nenhuma maneira de não ser crítico, como um ser humano auto-consciente que vai julgar a si mesmo. Quando você julga a si mesmo, você não vai ser compassivo para com os outros, compreender os outros. Você vai ser crítico. Isto é natural, porque se eu sou duro comigo mesmo, como eu vou ser simpático e compreensivo dos outros? Eu sou crítico e você também é crítico, então nós dois passamos como normais. Para ser normais, tudo o que nós precisamos é de nossa mútua companhia.
Portanto, então, como eu valido o meu próprio entendimento interno sobre mim mesmo, é a única coisa que conta para determinar se fiz ou não fiz isso. E isso é muito importante. O mundo todo pode dizer que você é bonito, mas você tem que assimilar isso. Caso contrário você vai pensar que o mundo não te conhece, ele só conhece a pessoa com a maquiagem.
No interior, o que eu penso sobre mim é o que realmente importa. Nesse lugar exato onde eu tenho esse sentimento de mim, do eu, naquele mesmo lugar eu vejo uma liberdade de julgamento de que eu não sou bem-sucedido, de que ainda tenho que ser bem-sucedido, ou, em outras palavras, nem tudo está bem comigo. Se uma pessoa está em casa sendo si mesma, quem quer que seja, eu diria que essa pessoa mesmo estando sozinha é bem sucedida.
Continua...
Fonte: Swami Dayananda Saraswati para Yoga.pro
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