(*) Por José Joacir dos Santos ([email protected])
Ao contrário do que muitos especialistas pensavam, o maior número de abuso infantil ocorre dentro da própria família, por parte dos pais, tios, padrastos e meio-irmão. A mania de bater para “educar” é ainda muito forte no país, apesar de se saber que violência doméstica só contribui para o adoecimento emocional de toda a família.
Pais que desenvolvem práticas de abuso físico, sexual e emocional contra seus próprios filhos ou contra crianças sob sua supervisão têm as seguintes principais características: situações estressantes como desemprego ou renda insuficiente; falta de planejamento familiar, e se gasta mais do que ganha; deficiência emocional em lidar com situações difíceis; não sabem como lidar com crianças especiais, hiperativas ou com deficiência física; infelicidade no casamento; abandono por parte de um dos cônjuges; pessoas que perdem o controle e ficam com raiva facilmente, batem portas, quebram objetos no momento de fúria e agridem o cônjuge; solitários de qualquer espécie, especialmente aqueles que possuem uma solidão incurável, desde a infância; sentimento de não pertencer a uma família ou de não ser amado; pais ignorantes quanto às necessidades infantis, os cuidados básicos, o comportamento infantil até a adolescência e as mudanças físicas e emocionais naturais das crianças/adolescentes; e mesmo pais com formação universitária, mas com falha em sua formação familiar, abusam de crianças e adolescentes.
Alguns pais, com pouca educação familiar, desenvolvem as conhecidas relações pai/filha e mãe/filho. Convencem as crianças de que a filha é a “queridinha do papai” ou a mãe desenvolve a falsa associação de que o filho é o “queridinho só da mamãe”. Marido que chama a mulher de mãe ou esposa que chama o marido de pai confunde as crianças. Essas relações evoluem doentias. Esse “favoritismo” é também doentio para a criança, vítima dele. Ela cresce com dificuldades de fazer julgamentos corretos, tomar decisões prudentes, ter relacionamentos afetivos sadios e construir grupos de apoio emocionalmente saudáveis e sociáveis. Alguns pais tomam banho com seus filhos como se isso fosse um traço cultural e natural na nossa sociedade e não é. Os conflitos começam quando a criança, inocentemente, comenta com outras crianças que toma banho ou que dorme com o pai ou com a mãe, ou com ambos, desde os três anos de idade. Elas também comentam o tamanho e a forma da genitália dos pais. É muito comum acontecer incesto nas relações pai/filha queridinha ou mãe/filho queridinho, embora a cumplicidade leve ao segredo. Esse segredo conduz aos traumas nunca resolvidos que afetam a vida inteira do indivíduo em tudo o que ele fizer.
O pai/mãe incestuoso faz o filho/filha se sentir especial no mundo. Presentes “especiais” são constantes. Pais adotivos abusivos também agem da mesma forma. O favoritismo faz a pessoa substituir o parceiro real, ou seja, o pai passa a olhar para a filha como o parceiro sexual e ignora a esposa. Os lugares mais utilizados para esses abusos são a cama, o banheiro e o carro parado na garagem. Vizinhos também abusam. A mãe insiste em dar banho no menino, com mais de oito anos, que hoje em dia já estão bem avançados fisicamente. O pai também que banhar a filha quando ela já tem mais de cinco anos, e que já pode tomar banho sozinha. Há registro de empregados abusarem de crianças e adolescentes, especialmente se o patrão ou/e a patroa são tipos de pessoa que deixam tudo nas mãos dos empregados/tias, tios, cunhados e outros. Na maioria dos casos há ameaças se a criança ou o adolescente “contar a alguém” (Christianoson & Blak 1990).
Há vários sinais de abuso: criança com baixa autoestima; encenação de atos sexuais com outras crianças, com bonecas ou animais de estimação; elas querem tocar nos órgãos genitais de adultos, mesmo vizinhos; desenha os órgãos ou cenas de sexo o tempo todo; baixo rendimento escolar repentino; pai ou mãe que insiste em botar a criança para dormir, e fica mais do que necessário no quarto da criança; pais que acompanham demais os filhos ao banheiro; a criança começa a ficar apreensiva dentro de casa; toma atitudes contrárias a um dos pais; fala de sexo fora da sua idade; quer sentar sempre no colo do pai; tocar os seios da mãe na frente de outras pessoas; chama adultos para tomar banho; não se socializa com outras crianças da mesma idade e, se acontece, tenta abusar delas; nos casos mais profundos, a criança desenvolve o desejo por cigarro, drogas e álcool, e o pai e a mãe diz: “comigo não tem problema, só não pode fazer isso na rua, tá ouvindo?”; crianças abusadas também apresentam agressividade contra outras crianças; não têm mais inocência, isto é, começam a se comportar como adultos, geralmente imitando o adulto preferido; elas começam a desobedecer às regras, tanto na família quanto em público e na escola.
Qualquer que seja a idade, a criança/adolescente vítima de abuso precisa ser submetida a atendimento terapêutico com certa frequência, assim como os pais. Geralmente há separações quando um dos cônjuges descobre que o outro abusou dos filhos e essas situações devem ser acompanhadas por um especialista para que o dano não seja ainda maior. É importante lembrar que, em termos de idade, o homem só atinge a fase do amadurecimento e sabe o que está fazendo na vida aos 26 anos. A mulher aos 23. A educação familiar muito rigorosa ou aberta demais produz efeito contrário na formação.
O menor de 18 anos pode facilmente fazer sexo porque não tem, fisicamente, cérebro formado para saber discernir o que deve e o que não deve fazer, por mais esperto que seja. Muitos jovens saem de casa quando não suportam mais os abusos, ou quando começam a perceber que a sua condição é diferente de outros na sua idade e que pai não faz sexo com filha nem filho faz sexo com mãe ou adultos. Muitos até são mortos ou “desaparecem”. É muito importante que os pais tenham a consciência do que é ser pai ou mãe e se comprometam imparcialmente com a educação dos filhos e a formação da personalidade sadia, já que sexo interfere fortemente na formação da personalidade se for mal conduzido, fora do tempo ou deturpado.
Só a vítima sabe o tamanho da dor que o abuso físico, sexual e emocional provoca. A dor pode vir muito mais tarde, nas noites de solidão, insegurança e medo de enfrentar a vida. Às vezes são danos irreparáveis, que pulsam dentro do coração da vítima, por mais que ela se dedique à própria cura. É só olhar para as prisões e se perguntar por que elas estão lotadas...
(*) José Joacir dos Santos ([email protected]) é psicólogo/psicossomatista.
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