Lucas quando criança não tinha muitos amigos na escola, e queria sempre passar como ele mesmo dizia "invisível". Sempre tímido, às vezes se escondia no quarto quando tinha visitas na sala. Era muito ligado à sua mãe e a acompanhava sempre ao mercado, à feira, ou mesmo em visitas às amigas dela, ficando sempre ao lado dela e quase nunca largava sua mão. Hoje com 35 anos, Lucas me diz: "Era meu jeito de manter-me vivo, de sentir-se eu mesmo, e fugir da insegurança em se relacionar". Sei que não posso continuar assim, e sei que sou dependente mesmo, mas não consigo ser diferente, não é o caso de dizer assim: seja-independente! , pois isso não funciona. Queria me sentir melhor, ser mais livre, realizar meus sonhos e objetivos, mas sempre me travo.
André era uma criança muito extrovertida, tinha muitos amigos, sempre dava um jeito de participar dos times de futebol que se formavam no horário do recreio da escola, se dispondo a aceitar os piores papeis no time, como zagueiro ou goleiro, já que todos os meninos queriam ser os atacantes. Hoje, aos 43 anos, André fala "No trabalho, nunca dou opiniões em reuniões, fico na minha mas sempre comento as idéias dos outros, sempre elogiando e confirmando com a cabeça. Não suportaria ter minha opinião tida como ridícula, e quero ser visto como uma pessoa boa e confiável". Não suporto ficar sozinho, e preciso do feedback dos outros, sei que estou errado, que isso é ruim pra minha vida, mas é assim que sou e não consigo ser diferente. Sinto-me às vezes como um "boneco" das pessoas, uma máquina de agradar meus amigos, mas não suporto a possibilidade de não ser aceito, de não ser admirado por ser um rapaz certinho e honesto.
Estes dois casos mostram como a dependência emocional pode se manifestar em várias personalidades diferentes e aparentemente contraditórias. Uma pessoa pode ser tímida ou extrovertida, agressiva ou passiva, e mesmo assim ser um dependente emocional. Eis mais alguns exemplos:
Maria G. recém separada após um casamento de 13 anos, antes de conhecer o marido, vivia com a mãe, hoje falecida. Após o marido pedir o divórcio, Maria G. entrou em forte estado depressivo com traços de síndrome do pânico. Diz ela: "Minha vida acabou, ele acabou com minha vida, eu não sei o que fazer agora, não sei pra onde ir, estou sozinha e não sei me virar..."
Adalberto é gêmeo com sua irmã, hoje aos 38 anos, ele ainda é solteiro e mora com a mãe. Trabalha e ocupa seu tempo todo com atividades ligadas a um grupo religioso do qual participa desde os 8 anos de idade. Adalberto é muito prestativo e acompanha a mãe em tudo, desde mercado a médicos ou visita a parentes. Ele nunca namorou e diz que sente falta sim, mas não consegue se ver vivendo longe da mãe.
A dependência emocional é muito comum nos nossos dias, e você mesmo talvez esteja passando por um período de real dependência a outro. Mas com certeza você já passou por situações de dependência emocional ao longo da sua vida.
Ocorre que a dependência emocional é um comportamento natural do ser humano. Nascemos num estado que chamamos de "neotenia", ou seja, o ser humano, diferente de muitos animais, nasce sem as condições de sobrevivência necessárias para buscar seu alimento por si só, ou se proteger dos perigos da natureza, precisando assim de outro ser humano para se "humanizar".
A mãe é nosso principal elo, e nos primeiros meses nem conseguimos diferencia-la de nós mesmos, e nos meses seguintes, inicia-se o processo de individualização, com as frustrações inerentes à vida, o bebê vai percebendo que a mãe não é ele e vai aprendendo sua autonomia.
Somos seres sociais por natureza, e nunca poderemos ser autônomos, mas um equilíbrio entre autonomia e dependência do "outro", é importante e vai definir nossa qualidade de vida tanto psíquica como social.
É importante observar os momentos em que ficamos sós, para ver o que sentimos como nos portamos e quais as sensações que temos desta situação. Em muitos casos somente a idéia de ficar só, traz pavor, pois ali estaremos em contato direto com nossos próprios pensamentos e isso pode ser assustador.
Momentos de solidão é importante para todos nós e saudável, pois nestes momentos conseguimos nosso centramento. Mas também a necessidade constante de períodos longos longe das pessoas pode ser um sinal de problemas. Precisar estar sempre no meio de um grupo de pessoas pode ser uma atitude saudável, mas também pode ser um sinal de uma "fobia social ao contrário", ou à dependência emocional e psíquica.
Um tratamento psicoterapêutico psicanalítico é o principal tratamento de fundo para a dependência, e podem também ser utilizados outras terapias complementares, que apesar de não trazerem resultados definitivos, podem ajudar o paciente na sua vida cotidiana com seus resultados paliativos, como é o caso da hipnose e dos florais. Estas duas técnicas podem ainda ser utilizadas como complemento na psicanálise para ajudar na investigação das causas da dependência, reduzindo assim o tempo do tratamento. A terapia floral ajuda a quebrar as couraças e pode fazer aflorar o inconsciente, e a hipnose pode também afastar ou reduzir bloqueios que impeçam de chegarmos aos conteúdos inconscientes na análise.
A dependência emocional é uma doença, e pode ser tratada levando a pessoa a melhorar sua qualidade de vida, sua saúde e conquistando sua felicidade e prosperidade em todos os aspectos da vida.
por Roberto Dantas - [email protected]
Roberto Dantas é terapeuta e escritor. Contatos com o autor: (11) 4107.9765 e celular: 8298.0045
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